CNV, coaching e pitacos na educação – por fora da realidade escolar
A semana de Dado começava rotineiramente da mesma forma: reunião geral, às 07h. Uma hora e meia de informações trazidas aos mínimos detalhes pelos gestores pedagógicos. Excepcionalmente nessa segunda-feira a gestão escolar trouxe, de surpresa, um convidado para palestrar. O tema: CNV – Comunicação Não Violenta. O palestrante: Emerson, 45 anos, psicólogo e coaching, pós-graduado em psicologia escolar 2.0.
Emerson abre a palestra dizendo que gostaria de realizar um bate papo acerca do tema e que também estava ali para ouvir. De imediato, cobrou atenção de todos os presentes e pediu para que o observassem atentamente, exercendo a escuta ativa, e que deixassem as anotações para depois. Dado trocou olhares com Freitas, na mútua compreensão de que o palestrante não entendia a dinâmica de um professor, que costuma anotar enquanto escuta, para bem formular os possíveis questionamentos.
"Observe, seja cauteloso, tenha clareza e atente-se aos pedidos. Analise suas ações antes de colocá-las em prática; exercite a empatia e a auto-empatia; não extrapole sua raiva no próximo. Esteja atento ao grau de importância que dá ao que os outros pensam sobre você." Com princípios simples e frases de impacto, Emerson trazia aos docentes aquilo que há tempos todos sabem, desde os idos da universidade.
Em seus pensamentos Dado analisava a palestra como mais do mesmo. E não apenas ele; ao final do monólogo, o palestrante abriu espaço para perguntas. Djamila, professora de Literatura Estrangeira, fez alguns apontamentos acerca do assunto e citou um acontecimento de sua aula, onde uma aluna, ao ser orientada a realizar a atividade proposta, a respondeu de forma ríspida, desferindo inúmeros palavrões à docente. – Como reagir numa situação dessa? Indagou.
- Devemos observar que essa estudante demonstrou comportamento hostil. Isso se deu, porque ela estava passando por algum problema. E complementou: - Estou respondendo me baseando naquilo que você falou. Não conheço a aluna. Novamente era mais daquilo que os docentes já compreendiam há tempos.
Freitas, Dado e Djamila trocaram mais uma vez aquele olhar complementar de compreensão.
O relógio marcava 8h40. Era hora de finalizar a palestra. Dito e feito.
Mais uma palestra sobre assunto do cotidiano escolar que todos os envolvidos na educação conhecem, mas que subitamente vem ser tratado por um especialista teórico, que nunca pisou numa sala de aula composta por crianças e/ou adolescentes, mas jura ter a solução para boa parte dos problemas enfrentados pelos docentes.
Era mais um dia na escola estadual Um Novo Mundo Há de Surgir.
A distopia do ensino público paulista segue a todo clique.