Prima paraguaia
Prima paraguaia
Na verdade verdadeira eu não tenho nenhuma prima paraguaia e sim uma prima brasileira casada com um paraguaio.
Começamos então com o título falso da crônica ou com a crônica falsa do título.
Vou falar de tudo o que aconteceu na viagem e de quase nada da prima.
Fomos ao Paraguai a bordo de um carro popular, com a potência de 1.0 sei lá o quê. Estou dizendo isso porque como estávamos em cinco pessoas e na subida da serra e sob uma espessa neblina, se caminhássemos ao lado do carro chegaríamos ao topo da serra, juntos.
A equipe aventureira era formada por mim, minha irmã, Lucimar, meu pai, Arão, meu sobrinho, Sidarta e sua esposa, Patrícia.
Fomos com pouco dinheiro e com praticamente o suficiente para comprar equipamentos para o Sidarta montar sua oficina de telefone móvel como dizem os portugueses, dos quais descendemos.
Lanche durante a viagem foi objeto de luxo. Para não passarmos fome, a Patrícia fez vários sanduíches naturais e levou consigo uma garrafa térmica com café. Foi um sanduíche bem melhor do que o xis mico que uma vez outra irmã preparou para uma viagem. O tal xis mico, para surpresa de todos era pão de trigo com banana crua.
A viagem foi por demais agradável. Ríamos o tempo todo. Era possível que ríssemos até da desgraça alheia, tal era a alegria de termos um pedaço da família em perfeita harmonia (até rimou).
Aconteceu até uma coincidência quando fomos abastecer o carro.
Em duas abastecidas a quilometragem percorrida, registrada no odômetro era igualzinha.
Muitas coisas boas aconteceram porque, na opinião da Lucimar, a Maria ia à frente. Maria era Nossa Senhora e vez por outra, em tom sério, ela falava: “A Maria vai à frente”.
Revezávamos no volante, eu, o Sidarta e a Patrícia. A Patrícia é uma excelente motorista na autoestrada. Digo isso porque teve um momento em que ela pegou o caminho errado e saiu para uma estrada de chão batido, e quem disse que ela conseguia engatar a ré para manobrar. Foram cinco minutos de palpites, muito riso e paciência com a “infeliz”.
O Arão estava muito feliz, pois na companhia de seus filhos conseguia esquecer certa tristeza que o abatia. Tal felicidade não pôde ser registrada em foto porque a Patrícia levou a máquina só com uma pose.
Trocávamos de lugar dentro do carro quando parávamos para abastecer o carro e/ou a nós mesmos. Tudo por conta do assento central que era por demais desconfortante.
Agora já estamos a menos de duzentos quilômetros da cidade paraguaia. Munidos de três “teléfonos celulares” entramos em contato com a Sandra, a tal prima paraguaia. Combinamos de que quando chegássemos à cidade ligaríamos para que ela fosse nos buscar.
Finalmente chegamos e para nossa “sorte” o comércio estava fechado, pois no dia anterior, sábado, foi o dia do trabalhador e los hermanos emendaram o feriado.
Convém dizer que aqueles que trabalham no comércio é de setenta por cento formado por brasileiros moradores da cidade vizinha.
Para completar nossa desgraça não havia santo que desse jeito na comunicação através de nossos aparelhos, e nos orelhões expostos não havia quaisquer objetos que nos salvassem. Todos haviam sido arrancados em ato de selvageria.
Olhem o desespero: Nove horas da manhã, domingo, cidade estranha, gente diferente, língua incompreensível e pouco dinheiro.
Com o carro estacionado fiquei ao volante dizendo aos paraguaios:
- Saiam daqui. Não quero nada. Vê se me encontram lá na esquina...
Eles sem me entenderem, só me ofereciam vaga em hotel. Eu dava uma de brabo porque o medo era bastante.
Finalmente a tropa, aliás, meus companheiros de viagem chegaram, depois de meia hora com a feliz notícia de que a Sandra viria nos pegar. Conseguiram telefonar num posto de gasolina, através de pagamento da taxa estipulada pelos frentistas.
Fomos bem recebidos por ela e por seu marido. Eles têm três filhos muito bem educados e espertos. O marido é engenheiro civil e tem vários prédios na cidade, projetados por ele.
Comemos do bom e do melhor. Uma comida nos chamou a atenção pelo nome, sopa em pedaços. Era uma mistura de legumes, prensada e muito saborosa.
Dormimos confortavelmente e na segunda-feira fomos fazer as compras. O movimento era pequeno e nos demos muito bem, principalmente porque a Sandra havia feito o levantamento de preços algumas semanas antes. Íamos direto com ela na loja mais barata e confiável e na algazarra que nos é peculiar, ríamos de tudo e de todos.
Retornamos felizes e prometemos voltar. Faremos isso novamente, dentro de uma ou duas semanas.
Dessa vez iremos em dois carros e pelo menos um será potente.
A festa será ainda maior e não esqueceremos de pegar a receita da sopa em pedaços. Registraremos tudo em fotos com alguns filmes extras e só não registraremos através de filmagens, pois podem nos tomar a filmadora. Esperamos que novamente a Maria vá à frente.
Aroldo Arão de Medeiros – 07/07/2008