ARGENTINA

A HISTÓRIA NADA NOS ENSINARÁ?

Nelson Marzullo Tangerini

É possível que a História não nos ensine mais nada. Penso assim porque estamos diante do crescimento assustador do neofascismo que já grassa pela Europa e Américas.

O que leva os jovens, que podem ter bons livros de História em suas mãos, a terem uma atração fatal pelo autoritarismo de extrema direita? Paralelo a isto, são alimentados por uma série da fakenews que tentam desconstruir o conhecimento científico: a Biologia, a Filosofia, a Sociologia, a Antropologia e a História.

Todos aqueles que pensam diferente e se opõem ao nazismo, ao fascismo, ao etnocentrismo são considerados comunistas. E, portanto, devem ser combatidos.

Inconformados com a derrota do capitão nas urnas, o gado acéfalo, que segue o genocida nos pastos verdejantes do país, ao invés de se aprimorar intelectualmente, gasta o seu tempo inventando fakenews ou pedindo o impeachment do atual presidente. Não era hora de repetir a ladainha criada por eles, “deixa o homem governar!”? Porque quando o ditador recebia críticas contundentes de seres pensantes do país, essa caterva inculta, de vocabulário chulo e primário, vomitava sobre nós essa tamanha boçalidade.

Há uma canção de Sting que diz que “History will teach us nothing”, ou seja, “A história nada nos ensinará”; usei-a (reporto-me ao início da crônica) e apenas pus o “mais” porque o historiador, hoje considerado um perigoso doutrinador comunista, vem perdendo espaço para os “influencers”, que, em sua maioria, apresenta uma cultura rala, diga-se, sem profundidade.

Isto se dá porque, nós, professores, durante quatro anos fomos ridicularizados, tachados de vagabundos, desordeiros, maconheiros ou doutrinadores. Mostrar aos alunos o que foi golpe de 1964 e o que veio depois – autoritarismo, prisões arbitrárias, torturas e assassinatos – é doutrinação?

E se falarmos da doutrinação dentro das igrejas e dos quarteis, antes das eleições de 2018, para que os descerebrados votassem naquele cidadão asqueroso, fã de Carlos Alberto Brilhante Ustra, um temido torturador da ditadura?

Na canção citada acima, de Sting, o cantor-compositor nos diz que “a nossa história escrita”, leia-se, da humanidade, “é um catálogo de crimes”. E a História do Brasil, parte da História Universal, também revela uma série de crimes - monstruosos: contra índios, negros e mulheres. Crimes que se repetem em pleno Século 21. Inclusive, crimes ambientais, que terão resposta mais adiante, ou depois de dois anos. O livro “Selva”, de Alexandre Saraiva, nos mostra que a boiada do ex-ministro do Meio Ambiente do capitão deixou um rastro de devastação, venda ilegal de madeira, entre outras barbaridades.

As fakenews, agora com proteção da ala conservadora, de extrema direita, veicula que não há liberdade no Brasil e que opositores do regime são perseguidos. Daí, se veicular, de território argentino - dominado por pessoas que desrespeitaram a dor das Mães da Praça de Maio, a ponto de votarem numa figura desqualificada - que um grupo de delinquentes, envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, estaria pleiteando status de dissidente político. Alegam esses fascínoras que não há liberdade de expressão no Brasil. Liberdade para eles é fomentar golpes, flertar com o nazifascismo e idolatrar ditadores e torturadores.

Costuma-se dizer que o historiador e o memorialista vivem do passado. Estudar História é importante para que não repitamos os erros do passado. E para que possamos resgatar valores que engrandecem a humanidade. Mas quando homens maus querem a volta de um passado sombrio, trevoso, só podemos resistir e responder com a grandeza de uma Educação Libertária.

Liberdade sempre!

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 09/06/2024
Código do texto: T8082412
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.