Reencontros e depois café no bosque

 

A chuva se foi, e o verão – tempo de estio para nós – está chegando. O sol deslumbrante da manhã vem me acordar e vai-se levantando, seguindo o seu caminho. O vento que balança a copa das árvores do quintal e o canto das rolinhas-fogo-pagou e outras aves, em concerto harmônico, produzem a sua cativante melodia matutina. Tudo muito bom e agradável ao olhar e ao ouvir. Nada melhor do que, sentado na minha rede, sob os eflúvios desse bucolismo, tomar um café à sombra das árvores, umas que plantei e outras que nasceram naturalmente e deixei crescer. Gosto de combinar crônica com café.

 

O pé de cupuaçu, plantado pelo meu irmão Raimundo, encerra seu ciclo vital: está morrendo! Ficarão, contudo, as goiabeiras, a mangueira, o pé de acerola, o pé de tangerina e as embaúbas que estou deixando crescer. Outros, no meu lugar, construiriam uma piscina, o que, convenhamos, seria muito bom. Eu, todavia, ao menos por enquanto, prefiro as árvores e o ambiente bucólico. Cada qual com seus gostos e manias, desde que a ninguém sejam prejudiciais.

 

Gosto da natureza. Árvores, animais, rios, paisagens e nuvens me fascinam. Mesmo no ambiente urbano dos quintais das casas onde morei, sempre plantei árvores e deixei crescer as que nasceram natural e espontaneamente. Como não poderia ser diferente, assim tem sido na Rua Maranhão, minha residência há mais de duas décadas (desde 31 de dezembro de 2001, para ser exato). Aqui, dentro do possível, cultivo no quintal um pequeno bosque. É o meu locus amoenus.    

 

Pois bem, dormi tarde e, no dia 2, domingo passado, amanheci cansado, estressado ao extremo. Levantei-me tarde e desanimado. Foi, contudo, por pouco tempo. Logo, estresse e desânimo desapareceram. O motivo da mudança repentina de humor? A leitura de “Reencontros”, a crônica do dia de Ignácio de Loyola Brandão, publicada no caderno Cultura & Comportamento, do jornal O Estado de S. Paulo, gentilmente enviada, via WhatsApp, pelo escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras Antônio Torres.

 

Não cometo com isso uma inconfidência: registro minha gratidão. Tenho o prazer e muita honra de ser amigo de WhatsApp e de Facebook do imortal Antônio Torres, autor, dentre outras obras premiadíssimas e reconhecidas internacionalmente, do romance Um cão uivando para a lua, Essa terra e O cachorro e o lobo. Gosto de cultivar amizades também no mundo virtual. Aproveito, assim, o que o bom uso das redes sociais proporciona.

 

Assim, afugentados o cansaço e o desânimo, coei um cafezinho e, como de costume, fui tomar sentado na minha rede, debaixo das árvores, apreciando a leveza da brisa, o som do vento na folhagem e o canto choroso da fogo-pagou. Está explicado – penso – por que Beth Griffi, escritora e professora de português (a quem, por gostar dos livros dela, me refiro de vez em quando) se cansou da vida urbana em São Paulo e, em busca do locus amoenus, foi morar no meio do mato, num sítio, em Itu, onde foi feliz e viveu até partir para a eternidade.