Comparar e contrastar
Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.
- Hoje eu quero ser saudosista. Os dois últimos anos do ensino fundamental e o ensino médio eu cursei em escola estadual, e tive professores excepcionais.
- Eu também, em português e matemática. Só anos mais tarde é que fui entender que havia sido treinado para comparar e contrastar. É uma função cognitiva das mais importantes para pôr ordem nos pensamentos.
- E escrever. Como escrever impacta o raciocínio, não? E, claro, ler e interpretar o que se lê. O esforço de comparar dois textos e contrastá-los desenvolve o raciocínio e a capacidade de enxergar semelhanças e diferenças.
- E isso aguça a capacidade crítica. E onde foi parar esse esforço de comparar e contrastar? Pelo que tenho lido sobre resultados dos alunos nas escolas estaduais, muitos mal conseguem ler e entender minimamente o que foi lido.
- Ultimamente, as mídias têm sido dominadas por textos intitulados “o que você precisa saber sobre...”, “vantagens e desvantagens de...”, “descubra aqui, o que fazer...”, “entenda o que é...”, “como saber se você...” e outros.
- Eu sei aonde você quer chegar. Esses textos são práticos, vão direto ao assunto, mas ajudam a tornar a mente preguiçosa tanto para ler como para pensar sobre o que foi lido. É a síntese do extrato da súmula do resumo...
- Exato! Tudo já vem na forma de itens, com vocabulário simples para convidar ao consumo da informação. Como há pouca participação por parte do cérebro do leitor, a informação se perde e logo é substituída por outra.
- Verdade! E essa pressa à qual nos acostumamos faz com que textos só com palavras, muitas vezes encurtadas, sem acentuação e sem pontuação tornem-se cada vez mais comuns. Basta observar postagens nas redes sociais.
- O problema grave é que escrita confusa ou fala confusa são sinais de pensamento confuso. Quando a gente perde a capacidade de pensar reflexivamente...
- Perde-se a capacidade de defender ideias com um mínimo de lógica, perde-se a capacidade de argumentar e as conversas perdem-se no terreno da emoção porque o pensamento não conseguiu avançar. Há como recuperar?