COCOS VERDES E CIGARRO FEDORENTO
Desci cinco lances de escada para receber uns cocos verdes apanhados do coqueiral em meu condomínio. Sou consumidor diário de água de coco fresquinha por residir num local abençoado por cinquenta coqueiros sempre repletos de frutos. Na metade da descida fui incomodado pelo pestilento odor de fumaça, deduzindo então que alguém no térreo estava fumando. Isso me irritou.
Tentando mostrar minha desaprovação e irritabilidade a quem pitava seu veneno lá embaixo do prédio, tampei o nariz com a camisa de forma acintosa pois o intuito era mesmo ser visto assim pelo caipora. Saindo na direção do gramado avistei o culpado por espalhar a catinga nociva não apenas no espaço livre, mas também por todo o rol de entrada e até escada acima.
Velho conhecido meu, há tempos ele sabia de minha ojeriza ao cigarro e então tratou de se afastar para mais longe indo para o lado oposto ao seguido por mim. Era um jovem amarelento, de feições doentias, namorado de uma garota do décimo andar que sempre vinha fumar sua porcaria tabacosa, desse modo empesteando tudo nas circunvizinhanças.
Sem me encarar, ele deu uma última tragada, baforou o ar poluindo-o, baixou a cabeça e, fedendo a cigarro da cabeça aos pés, correu para o elevador e se foi rumo aos braços da pobre namorada que suporta seu vício calada. Quanto a mim, peguei os cocos recém colhidos, pu-los num saco e voltei para a escada onde enfrentei a subida até o quinto andar, furioso porque o fedor de cigarro continuava. Realmente não é fácil dividir espaço com pessoas díspares.