Se tem uma lembrança que me diverte é a de ter sido estagiária junto ao Núcleo de Práticas Jurídicas da faculdade em que me formei em direito. 

 

O projeto ousado do diretor à época (um velho homem apelidado de Dr. Cotonete), que devolvia cidadania e dignidade aos cidadãos em vulnerabilidade social e econômica.

 

Não era uma defensoria pública em que causas diversas recebiam o tratamento adequado e os profissionais dativos poderiam pleitear recuros, mas era uma alternativa para incluir os oprimidos e suprimir os "opressores", em tese.

 

Embora a finalidade do projeto fosse "equidade" num mundo de disparidades, algumas histórias, as mais inusitadas,  vez ou outra borram a memória:

 

Foi lá que conheci o Itamão. Sua ex mulher exigia pagamento de pensão alimentícia. Ele, um homem jovem, bonito, bem vestido.

Por que estaria ali num local para atendimento prioritário de pessoas em condições precárias?

E foi assim que descobri que o galã de novela havia planejado e executado (com maestria) o maior plano de roubo ao Banco do Brasil da cidade.

Até que deu certo!

O problema é que ele se esqueceu de avisar para a esposa e fugiu com a amante. Mulher traída é capaz de tudo. Até de desvendar um crime. O Itamar tinha a mão grande, logo Itamão. A denúncia que levou ao foragido tinha nome, sobrenome, endereço e status social.

Quem diria Itamão... A intimidade é mesmo um bem de valor inestimável!

 

Foi lá também que vi um pai desistir da pensão de uma filha porque notou que o seu quadril e pernas alargaram. Logo, estava "servindo marmita". Ele não ia financiar "marmita pra marmanjo".

Como assim ver a filha feito presa?

 

O Benedito, quis dividir os bens:

- As colheres de cabo azul quem me deu foi minha mãe! Vou ficar com todas elas. E quero tambem as tampas do vaso de plástico. Se vai ficar na casa, vai "defecar com a bunda fria." 

Melhor uma buzanfa fria a uma cabeça quente!

 

O Vicente acordou molhado e pensou que era de suor. Quando se levantou, a surpresa: a mulher derramou sete vidros de álcool para incendiá-lo. Mas o palito de fósforo acabou e ela correu até a loja de conveniência do posto para comprá-lo. Quando retornou a polícia estava na porta.

Que azar o seu, Mariinha! O fogo acabou na hora errada?

 

O Chico fez uma tatuagem com o nome da ex. A atual tentou retirar com ácido mas dizendo que era acetona. Seria ela uma faxineira de mão cheia, uma manicure ou uma assassina? Ele perdeu boa parte do membro.

Será que na alma fica gravada um nome?

 

Alice queria pensão do pai. Representada estava pela mãe Mirtes. Quando chegou, trazia consigo 8 crianças cujos tamanhos eram quase idênticos, embora as características fossem bem diferentes. 

- São seus filhos, Dona Mirtes?

- São sim, Dr. Carlinhos.

- Mas não está na hora de pensar em parar a fábrica? Opinou com ousadia o coordenador do NPJ.

- Que nada, Dr., eu sou igual vaca parideira. 

- Mas manter essa menina da toda tem custo, Mirtes. Toma juízo. 

- Eu até queria Carlim. Mas o que não consigo é parar de "virar os zoios".

Nunca vi tanta sinceridade!

 

A Filomena chegou às pressas. Queria ver a "cara de paisagem" do Alcides.  Casados há 22 anos, descobriu há seis meses, que o Carlão tinha um filho recém-nascido. Queria o divórcio, mas ele não aceitava.

- Sr. Alcides, seria melhor que tivéssemos consenso para o divórcio.

- Nem a pau.

- Mas Filomena disse que não aceita traição e que essa novidade do filho tem lhe causado muito desgosto.

- Mas logo agora? Tem 20 anos que saio pescando nas matas e fazendo o que o homem mais gosta. Nunca deu em nada. Agora que já estou quase aposentando o (...) Você sabe, né. Entende, né. Só pode ser macumba. Alguém fez trabalho pra mim. Eu nem queria tanto. Foi um espírito do mal que me dominou. Aí eu não podia controlar. A mulher tirou a roupa, abanou o rabo e falou: - Tu é homem ou não? Eu fui. Sou homem, uai. O senhor não iria?

- Então quer dizer que não foi a primeira vez? - Perguntou Filomena.

- Foi a última, amor. Foi a última...

O último romântico, seria?

 

E por mais que pareça estranho, é assim que a vida acontece... Pelo menos no interior de Minas. Fofocas de lado, tenho mesmo é saudade.

 

- Eu juro, Dr. Carlos. Eu, juro! De pé junto...

 

- Eu não ponho mão no fogo pra essa praga porque já sei vou morrer queimada!

 

- Tira essa mão imunda de mim. Quem gosta de porco é fazendeira, mas só no cocho.

 

- Eu vou rezar todo dia até a morte, pra Deus te dar um bom lugar! Nesse caso, o inferno seria pouco. Juro.

 

(...)

 

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 07/06/2024
Reeditado em 07/06/2024
Código do texto: T8080651
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