CONSCIÊNCIA

Se ele gritar o silêncio escuta, se calar a alma brada. Sem outra opção, geme, e ambas, alma e alma, em seu íntimo conturbado, desnorteadas, forçam os olhos às lágrimas. Onde encontrará mãos clementes que abrandem as necessidades em algum momento de desespero? Não há, inexistem em derredor, nenhuma, a possibilidade de qualquer auxílio se acaso o queixume súbito emergir nem ao menos é remota, porque ele mesmo reduziu tudo a cinzas no âmbito dos relacionamentos.

Portanto, resta somente o amparo de si mesmo, da própria resiliência, de em dados instantes ter que tatear, arrastar-se, segurar-se nas cadeiras, ajoelhar-se, acocorar-se e debruçar-se no chão quando cansado. Quem lhe fará um chá na madrugada vazia caso chegue o incômodo que o prostre? Correrão pernas apressadas visando atenuar suas dores? Quem e que pernas? Nada, zero possibilidade, virou pó e desapareceu a perspectiva. Batendo acelerado no peito o pobre coração talvez prestes a explodir, balbucia "se vire".

Sim, por consequência virar-se é sua única alternativa. Nesse breve segundo de repentina reflexão , ao longe, abatida, a consciência pesada o avisa que toda escolha traz resultados bons e maus. Malgrado nunca sequer ter escolhido a solidão, abandonar sorrindo feliz da vida o passado pensando em descobrir um futuro de plena felicidade logrou apenas ser também abandonado, relegado a viver só. Foram-se os anéis e os dedos, o ontem, o hoje e o amanhã. Ao seu lado permaneceu unicamente o abraço de urso da solidão.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 07/06/2024
Reeditado em 07/06/2024
Código do texto: T8080573
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