ABRACEM OS IDOSOS

A grande paixão dos idosos, senão a maior talvez, é sem dúvidas dialogar, jogar conversa fora sobre qualquer assunto, irrelevante se são verdadeiras ou não, o que vale é relatar suas histórias, inventadas umas por certo, relembrar os acontecimentos do seu tempo, inclusive contar lorotas desconexas porque a razão da idade necessita de aplausos, o velho e cansado coração chora por afagos.

Quando nesses momentos eles se repetem narrando o fato ou a invenção vezes afora, não raro ficam emocionados e suspiram melancólicos de saudade. O mundo deles reside no passado, o ontem conserva sonhos vividos, momentos felizes principalmente, os tristes são relegados, não vale a pena relembra-los, reine somente o instante dos sorrisos, assim tudo alegre que já se foi sem volta tem valor relevante porque o amanhã pode nunca mais existir na sua agora caminhada lenta.

Na ânsia de parar a contagem regressiva do relógio temporal, a luz quase a se apagar, o fim do túnel se avista logo adiante, pensar nisso dói, então trocar recordações e ideias, misturar as palavras falando e falando com receio de perder condições motoras e até a voz em virtude das tantas mazelas advindas com a velhice, eles conversam incansavelmente. Ávidos por ouvintes.

Ouçam o apelo dos idosos vocês jovens, dêem a eles um pouco de atenção enquanto ainda se encontram entre nós. Paciência e afeto recebidos daqueles dispostos a ouvi-los e compartilhar os outroras resmungados de seus lábios murchos dos muitos beijos e das cotidianas pisadas dos anos, é mais que bálsamo, esses minutos momentâneos na companhia deles prolongarão a vontade de, se possível, continuar um pouco mais a caminhada. Sejam parceiros breves da tênue chama de vida que ainda tremula na voz de quem um dia também foi jovem cheio de vigor. Daqui a pouco não estarão mais aqui, viver exige também um dia perecer. Portanto, embora mínimos, gastem instantes com eles, imaginem o bem que isso lhes fará. Mirem os rostos túrgidos e a pronúncia pesada das palavras como se em frente ao espelho do futuro.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 06/06/2024
Reeditado em 06/06/2024
Código do texto: T8079807
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