Haja Paciência!
Que contexto!
Paciência revolucionária, disse Lênin em outro contexto. No atual, em que a esquerda encontra-se acuada pelos extremistas de direita, tanto no Congresso Nacional, quanto nas ruas, haja paciência!
Dois passos à frente e um passo atrás, outro ensinamento do velho Lênin. O que está acontecendo é uma correria para trás em relação às conquistas trabalhistas e sócio ambientais, com a aliança dos grandes veículos de comunicação e da burguesia empresarial, do agro é pop, do sistema financeiro, na consolidação do modelo econômico neoliberal, que vem colocando o governo do Presidente Lula nas cordas.
O Senado e a Câmara Federal, de maioria reacionária, da bancada BBB (Bala, Biblia e Bola), vem impondo seguidas derrotas ao Executivo, e impedindo os avanços das pautas progressistas. Nossa Constituição virou uma colcha de retalhos, uma verdadeira tauba de tiro ao Álvaro, como cantou Adoniran Barbosa. Tem sempre uma PEC retrógada sendo apresentada no Congresso, com o apoio ou silêncio dos jornalões. Globo, Record, Folha, Veja, Estadão, entre outros veículos da mídia empresarial, não fazem jornalismo. Fazem lobby para o sistema financeiro, porque eles mesmo são rentistas, donos de bancos. Por isso não criticam Paulo Guedes, Roberto Campos Neto, o das mais altas taxas de juros do mundo. Como não criticam a privataria de Ratinho Júnior, Zema, Tarcísio, entre outros.
Até as nossas praias querem privatizar, que vai impedir o povão de um banho de sol nas areias.
A mim parece-me bem.
Privatize-se Machu Picchu, privatize-se Chan Chan,
privatize-se a Capela Sistina,
privatize-se o Pártenon,
privatize-se o Nuno Gonçalves,
privatize-se a Catedral de Chartres,
privatize-se o Descimento da Cruz,
de Antonio da Crestalcore,
privatize-se o Pórtico da Glória
de Santiago de Compostela,
privatize-se a Cordilheira dos Andes,
privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu,
privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei,
privatize-se a nuvem que passa,
privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno
e de olhos abertos.
E, finalmente, para florão e remate de tanto privatizar,
privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez
a exploração deles a empresas privadas,
mediante concurso internacional.
Aí se encontra a salvação do mundo…
E, já agora, privatize-se também
a puta que os pariu a todos.
José Saramago