E tocavam chorinho...

Uma das melhores coisas de habitar no bairro da Santa Cecília, no centro da cidade de São Paulo, é o fato de poder sair à noite e, por acaso, encontrar um grupo de chorinho em alguma casa noturna, bar ou restaurante.

Uma das melhores coisas de morar em São Paulo é esse cultivo que a sua juventude tem por chorinho. E esse apreço é muito visto nos recintos onde circula a juventude.

É muito prazeroso andar por aí ao léu à noite e encontrar um grupo musical de chorinho executando com maestria um dos ritmos mais belos e mais difíceis que o nosso cancioneiro já produziu. Mais prazeroso que isso é ter um vizinho que toca chorinho e participa com seu violão mavioso de musicais.

Pois ontem, no feriado chuvoso, passei o dia inteiro em casa e só à noite, quando até mesmo a garoa havia cessado um pouco, me dei conta que não havia saído durante todo o dia e, ao abrir a janela, vi que as pessoas saíam, tive vontade de sair um pouco e assim o fiz.

As ruas da Santa Cecília se encontram plenas de gente à noite, nos bares e nos lugares onde servem comida e bebida, uma juventude que mora próximo, nos outros bairros de centro de São Paulo e em bairros mais distantes, acorre para cá para se divertir, se encontrar, aproveitar sua juventude, beber e comer petiscos.

Pois não é que encontro, em um bar, um grupo de chorinho e, junto aos demais, o vizinho, aquele que toca a alegria, a tradição musical, a beleza, as junções de sons maravilhosos? Não tive dúvidas e parei para apreciar o concerto e aplaudir ao final das interpretações musicais.

Tocar e ouvir chorinho não é somente ouvir um excelente ritmo ou apreciar um tipo de música que temos no nosso país. Tocar e ouvir chorinho é dizer do melhor da alma e do gênio brasileiros e é celebrar o que de melhor nossa civilização produziu e produz.

Ver essa juventude celebrar, perpetuar e cultivar esse gênero é uma graça sem par, é um enlevo profundo, potente e admirável da alma brasileira. Isso em meio a tantos ritmos musicais que, infelizmente não aprecio, por aqui e ali.

Tocar e ouvir chorinho não deveria ser um privilégio de quem mora no centro de São Paulo ou no Rio de Janeiro. Tocar e ouvir chorinho deveria ser direito de todos os brasileiros que quisessem ou se interessasse pelo ritmo. Para ouvir basta que estejam músicos tocando, no entanto, para tocar exige-se educação musical, oportunidades e disponibilidade para que todos tenham acesso às oportunidades.

Diante dessa tradição musical que brasileiros temos, diante dos talentos - alguns deles perdidos em meio às restrições da pobreza -, devemos no Brasil ter aulas de música em todos os recantos desse imenso país, onde a arte seja, nem só subvencionada, porém, incentivada, para que jovens aprendam ou toquem bem instrumentos, cantem e sejam aplaudidos por isso.

Nosso país carece nem só de um programa musical, porém, um programa de artes que tenha casas de ensino e execução em todas as esquinas desse imenso território. E isso só acontece subvencionado pelos governos federal, estaduais e municipais. Afirmo que devem estar essas casas de arte em todos os lugares para fazer frente a toda necessidade de artes que o país tem.

Já passou da hora do nosso país ter programas extensos de música, teatro, dança, literatura e outras artes para todo o povo de maneira muito mais extensa.

Rodison Roberto Santos

São Paulo, 13 de outubro de 2023

Rodison Roberto Santos
Enviado por Rodison Roberto Santos em 06/06/2024
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