DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE
Hoje dia 05/ de Junho é o Dia Mundial do Meio Ambiente. Ao ler nas lembranças diárias do Facebook sobre esse dia, então fui procurar no amigo Google, para reavivar a memória, o motivo de ser esse dia escolhido, e, como sempre, a resposta logo veio: Foi criada pela ONU em 05/06/1972, durante a Conferência de Estocolmo, buscando chamar atenção para os problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais.
Lendo isso, me veio nitidamente à memória a época, mais precisamente o ano de 2006, que dava aula no Colégio Coração de Maria, mais especificamente para o curso TÉCNICO EM GESTÃO DO MEIO AMBIENTE, na disciplina de MATEMÁTICA APLICADA AO MEIO AMBIENTE, onde, ao invés de ensinar a fazerem cálculos, como sempre se faz, deixando a matemática comum e chata, como todos acham, além de difícil, por exigir que tenhamos muito raciocínio, muito pensar, decidi por criar Estudos de Caso, abordando todo o conteúdo que o Plano de Ensino exigia, mas de uma forma mais prática. Desenvolvi vários, começando com os mais fáceis, mais rápidos depois aumentando o grau de dificuldade e raciocínio para que eles pudessem se interessar e poderem analisar e tomar consciência sobre o que acontecia com a natureza quando se fazia tal coisa. Foram muitos estudos de caso, foi um ano inteiro criando Estudos de Caso para aplicar com eles.
Vou citar três: um deles eles tinham que fazer vários cálculos, com muitas perguntas e depois fazer um relatório sobre a relação do corte de árvores para confeccionar folhas de papel para usarmos em cadernos, livros (adoro livro físico, mesmo sabendo desse desmatamento). Vi essas informações no antigo Guia Telefônico de Porto Alegre. Me interessei, copiei as informações que ali forneciam e então, desenvolvi um Estudo de Caso bem complexo.
Um outro EC foi sobre a construção de uma casa (estava construindo uma parte da minha casa - que hoje está completamente alagada pelas enchentes, mas já não é mais minha, pois ao me divorciar deixei para minha ex esposa) e, conversando com o experiente pedreiro me deu várias e diversas informações sobre quantidades de todo tipo de material, e fui pesquisar em três madeireiras para conseguir criar um EC desafiador e de interesse de todos, pois todos querem fazer a casa dos seus sonhos. Acabou que o EC tinha 8 páginas de perguntas, todas interligadas.
Se o EC anterior, das árvores chamou a atenção dos alunos, esse de construção então, foi muito legal, pois todos interagiam, iam nas empresas pesquisar preços de materiais e assim foram três semanas de total imersão no EC.
Depois de tudo resolvido tinham que fazer a apresentação e debate sobre os resultados. Tinham que argumentar e explicar. Não bastava calcularem, tinham que argumentar - a melhor parte, pois tinham que fazer analogias em relação ao meio ambiente, afinal, todos os materiais utilizados vinham da natureza.
Mas, o EC mais interessante na sua resolução, que causou maior implicância e dedicação de todos, com engajamento geral, indo pra fora da sala de aula, inclusive com interdisciplinaridade foi o EC sobre a Mortandade de Peixes que aconteceu naquela época, no Rio dos Sinos. Como sempre li Diário Gaúcho, comecei a guardar os recortes que se referiam - e tinha diariamente, por muitos dias e semanas - ao que estava acontecendo e nunca chegavam a conclusão alguma sobrea morte exagerada de peixes. Levei os recortes até meu sogro que era pescador e até carteira tinha, e profundo conhecedor de peixes e o comportamento das águas e dos peixes. Durante a conversa com ele, me passou muitas informações, as quais fui anotando e sempre perguntando mais detalhes.
Através das informações adquiridas nessas duas fontes, além de outras pesquisas para me respaldar sobre o assunto, desenvolvi um complexo estudo de caso, chegando a uma conclusão que não era nada agradável para a natureza, e muito menos para os órgãos fiscalizadores e muito mais preocupante para os culpados de tudo aquilo.
Pois bem, ao distribuir as folhas para os alunos - minha dinâmica de trabalho era individual, em dupla, em trio ou grupo, como cada um quisesse, mas cada um tinha que ter o seu trabalho, e com suas opiniões formadas e declaradas no relatório final. O trabalho foi tão envolvente que acabou se transformando num grande grupo com todos os alunos fazendo juntos. Era lindo de se ver o envolvimento de todos os 25 alunos para conseguirem solucionar e chegar ao denominador comum do que estava questionando. Foi um dos mais belos trabalhos que eu desenvolvi.
Acontece que, numa visita pedagógica, para outra disciplina, com outro professor, eles foram andar de barco para visitar todo o rio dos sinos, andaram pelos afluentes e por onde podiam e o responsável pelo projeto Martim Pescador era o orientador deles, juntamente com o professor; e nessas explicações um dos alunos comentou sobre a quantidade de peixes mortos não correspondia à realidade, pois eram milhares a mais do que divulgavam nos jornais. Eu não estava presente, mas eles mesmo me relataram que o tal capitão do barco ficou todo receoso e perguntou de onde ele tirou essa informação. E ele, prontamente, sem titubear, porque não sabia o que aquela informação poderia ser alardeante, disse que era num Estudo de Caso que o Professor Mendes, eu, no caso, deu para eles resolverem e chegaram ao calculo muito maior do que o divulgado. E assim, conversaram e o que fez com que acabasse o passeio. Mas antes disso, já haviam tirado fotos de vários pontos onde realmente a mortandade era imensa. Reconhecendo e descobrindo até de onde vinha toda a culpa por aquele desastre ambiental, e assinando em baixo o que no EC estavam calculando e chegando aos valores reais.
Eis que, no outro dia, ao chegar no colégio poucos minutos antes de começar as aulas do turno da noite, a diretora veio até mim e me questionou sobre o que eu estava aprontando, porque o capitão do Projeto Martim Pescador estava querendo falar comigo. Ele estava na escola. Fiquei gelado, mas sem me preocupar, visto que nada tinha feito - do meu ponto de vista, que não vê maldade em nada. Fui conversar com ele, que me questionou e até fui buscar uma cópia do EC aplicado, o qual ele levou, talvez para tentar resolver - o que acho meio difícil que conseguisse -, não sem antes me pedir para terminar com aquele assunto e que não saísse dali essas informações. Tudo bem, já estávamos quase terminando mesmo os cálculos, mas daria continuidade e pediria para que os alunos me explicassem melhor o que aconteceu. Foi o que relatei, só que com mais detalhes, que não vou relatar aqui para não me estender demais. Mas, a coisa se espalhou. No outro dia, um repórter do Jornal do Vale dos Sinos me ligou para me entrevistar. Fiquei 25 minutos conversando com ele e explicando que era apenas um trabalho do curso técnico em Meio Ambiente, nada mais do que isso. Dados estatísticos que tinham como fonte o DG e um pescador. No outro dia, eram alunos e colegas me ligando porque meu nome estava no jornal referindo-se a mim como estatístico - dava aula de estatística mas não sou, pra ver como eles inventam - e contando tudo que havia dito, mas com a realidade deles e não a minha que havia dito ao repórter. Naquela mesma noite, na escola, estava dando aula de Filosofia para o curso Normal (Professoras) e toca o meu celular, eu atendi, pois podia ser algum contato para alguma palestra e mais trabalho. Era um Repórter da ZH me indagando. Foi rápido pois estava em aula. No outro dia no ZH outra reportagem com o mesmo assunto, daí me nomearam como Matemático - também não sou, embora tenha dado aulas por muitos anos - e a abordagem deles me assustou, me colocou uma pulga atrás da orelha, e ela estava me picando. Então perguntei, no intervalo, para minha colega, professora de Direito do curso Técnico em Administração, era advogada, o que isso acarretaria pra mim. Ela, sempre muito descontraída e elegante, me disse 'tu podes acabar com a boca cheia de formiga', daí fiquei alerta. A conversa fluiu e ela me deixou bem a par do que poderia acontecer. Me recomendou que abafasse tudo isso para não me prejudicar. E assim eu fiz. Tentei, porque a coisa continuou por um bom tempo. Descobriram a realidade, o responsável foi para o exterior, fugindo da responsabilidade de ter colocado descarte de produtos químicos de um curtume em uma parte do rio dos sinos e se espalhou. Eu estava certo, mas o certo aqui no Brasil não vale pra nada e e ainda corre o risco ser descartado. Não sei se foi consequência do trabalho que fiz e foi divulgado com os valores que eu havia calculado, mas foi resolvido e a contaminação acabou. Os alunos apresentaram, em dois dias, porque tamanha era a discussão quando apresentavam seus trabalhos. Aulas super produtivas.
Foi um dos mais espetaculares trabalhos que já criei e desenvolvi com meus alunos, entre tantos outros que já fiz. Não me arrependo de tê-lo feito e aplicado aos alunos, que participaram e puderam vivenciar a realidade que um trabalho de aula pode mostrar as verdades da vida. Ficou a experiência que nem sempre podemos contar a verdade, e que nem sempre as informações dos jornais são as mais corretas e fidedignas. Cuidado.
Assim foi minha lembrança no dia do Meio Ambiente.