Natureza e resiliência
A lama seca, rachada, sem vida é um vestígio de que ali houvera um lago. Carcaças de animais vitimados pela sede se espalham pelo caminho, deixando um cheiro de morte no ar. No intenso azul do céu, um sol abrasador brilha, impiedoso. Há meses que não chove!
Nessa realidade, a vegetação da caatinga, resiliente, luta pela vida, resiste às intempéries do ambiente. Aqui e ali, ora se vê um verde opaco, ressequido nos arbustos espinhosos que se espalham pela planície. Ao longe, nos rochedos, vez ou outra se ouve o grunhido de algum mocó, um dos poucos sobreviventes desse prolongado verão. Assim, apesar das adversidades, a vida se evidencia, mesmo com tons peculiares.
Nota-se, também, nos vegetais, a penúria pela sobrevivência. Adaptando-se ao calor desértico, xiquexiques e caroás se espalham pelo chão, suportando o mormaço quente. Aroeiras quase sem folhas, vagueiam seus galhos buscando uma fuga do calor ardente. O umbuzeiro, com seus galhos retorcidos e emaranhados, apresenta uma folhagem robusta, esverdeada. Ademais, suas raízes, num processo mimético, retém água suficiente para alimentar a planta durante a estiagem. Desse modo, a vegetação do sertão apresenta uma contribuição pela sobrevivência num ambiente aparentemente inóspito. Contudo, com a chegada das chuvas, novamente a vida se faz presente e o ciclo recomeça.
Ranon Machado