Entre Sem Bater - Falácia da Autoridade
Daniel Ellsberg disse:
"... é verdade que a maioria das pessoas acha muito mais confortável confiar numa autoridade do que ter a sua fé questionada ..."(1)
Com toda a certeza, se perguntarem para cem pessoas da geração Z que foi Daniel Ellsberg, nenhuma saberá responder sem consultar o Google. OPS! Atualmente o Google mudou, além de perder seu posto para as tais IA Generativas. Se, por outro lado, perguntarem para os mesmos cem neófitos quem é Edward Snowden(*), uns dez por cento devem acertar. Daniel Ellsberg era uma autoridade quando o assunto era transparência e defesa de comportamentos humanistas.
APELO À AUTORIDADE
Atualmente, as lutas de cada um nas redes sociais é pela sobrevivência num mar de desinformação e interesses. Qualquer debate, sobre qualquer tema, torna-se uma briga e com altíssimo viés de polarização. Infelizmente, até as pessoas que ficam "em cima do muro" têm grande responsabilidade por este estado de coisas.
Assim sendo, se alguém pergunta sobre um tema qualquer, e a resposta é "... sou humanista e defendo ...." a paulada é certeira. Os déspotas e seus vassalos querem que você responda se é contra ou a favor da pessoa A ou B. Portanto, a melhor maneira de travar algum diálogo é através da conversa com quem pensa igual a nós.
Existe coisa mais absurda?
Certamente que não!
Por outro lado, entram nestes debates, com muita frequência, uma grande falácia, a do apelo à autoridade. Em outras palavras, aquele cara que quando flagramos em alguma contravenção profere: - Sabe com quem você está falando? ..."
FALÁCIAS E PARALOGISMOS
Alguns anos atrás, quando iniciei as publicações neste Blog, imaginei que receberia benefícios ao tentar esclarecer algumas coisas. Por exemplo, as pessoas nas redes sociais não sabem a diferença entre falácia e paralogismo, e as praticam indiscriminadamente. Como se não não bastasse, se porventura aceitamos o debate e utilizamos os pontos falhos das assertivas, ganhamos inimigos.
A lista de paralogismos é extensa, e ganha, a cada postagem mentirosa, milhões de seguidores, que acreditam em qualquer discurso(1). A luta é árdua, os adversários são verdadeiros estelionatários intelectuais, quando possuem alguma capacidade cognitiva. Assim sendo, ficou difícil contrapor o que dizem os escravocratas de mentes e corações.
ESCRAVIDÃO MODERNA
A falácia do apelo à autoridade é um erro ou desvio do argumento lógico comum onde a validade fundamenta-se numa pretensa autoridade. É provável que, separadamente ou isoladamente, o apelo relaciona-se à posição de quem o pronuncia qualquer coisa. Desse modo, em vez de possuir evidências ou raciocínio lógico, algo torna-se verdade pela pessoa ou status. Esta falácia ocorre quando alguém afirma que algo é verdadeiro simplesmente porque uma figura proeminente diz que é verdade.
Daniel Ellsberg, um ex-analista militar dos Estados Unidos, fez a observação que é relevante no contexto contemporâneo dos ambientes virtuais. Certamente, a disseminação de informações, verdadeiras ou falsas, ocorrem em uma velocidade impressionante e totalmente sem controle.
Assim sendo, cria-se uma espécie de escravidão mental que consegue obstruir até a liberdade de pensamento(2) das pessoas.
ZONA DE CONFORTO
O conforto que as pessoas encontram em confiar nas autoridades é compreensível, mas inaceitável. Dado que vivemos em uma era de especialização onde, sem dúvida, o conhecimento técnico pode ser complexo e vasto, a crítica deveria imperar. Confiar em especialistas ou figuras de autoridade pode ser, eventualmente, uma maneira prática de navegar pela sobrecarga de informações. No entanto, essa confiança pode se transformar em uma armadilha quando tem seu uso sem verificações e questionamentos. Em outras palavras, sem um exame crítico das informações que recebemos, a zona de conforto transforma-se em pura turbulência.
Nos ambientes virtuais, essa tendência recrudesce a níveis imagináveis e compra-se gato por lebre a cada postagem sem confirmação. Plataformas de mídia social e outros canais online permitem que informações, independentemente de sua veracidade, se espalhem rapidamente. Muitas vezes, as pessoas compartilham conteúdo que reforça suas crenças pré-existentes e figuras de autoridade que respeitam. O conforto que existe em não verificar a precisão ou a validade dessas informações, leva a fiascos e gafes fenomenais. Esse comportamento contribui para a disseminação de desinformação, das fake news e a certeza que o disseminador é ignorante.
A ERA DIGITAL
A falácia do apelo à autoridade é particularmente perigosa na era digital por várias razões.
Primeiramente, a Internet democratizou a produção e a disseminação de informações. Isso significa que qualquer pessoa pode publicar conteúdo, independentemente de sua precisão ou credibilidade. Em segundo lugar, a velocidade e o alcance das redes sociais permitem que informações falsas ou enganosas se espalhem rapidamente. Desta forma, o alcance a milhões de pessoas em questão de minutos não permite que surjam erratas ou o famoso "erramos". na mesma dimensão.
Quando uma figura de autoridade – seja ela um político, uma subcelebridade ou um especialista – faz uma afirmação, a amplificação é certeira. Se os seguidores confiam cegamente na autoridade dessa figura, a aceitação da "verdade", sem o devido escrutínio, é um perigo. Inquestionavelmente, podemos ver este fenômeno em diversas áreas, desde a política até a saúde pública, inclusive com efeitos e consequências graves.
EDUCAÇÃO E REFLEXÃO
Para combater a falácia do apelo à autoridade e a disseminação de desinformação, é crucial promover a educação e o pensamento crítico. As pessoas devem questionar e verificar as informações, independentemente de quem as está apresentando. Ferramentas de checagem de fatos e a alfabetização midiática são recursos importantes nesse processo. Desse modo, ajudam todos os indivíduos a discernir informações verídicas das falsas.
Além disso, a educação deve enfatizar a importância de analisar e avaliar informações de maneira lógica e racional. Isso inclui entender as motivações por trás das fontes de informação e reconhecer as falácias lógicas comuns, como é o apelo à autoridade.
Fantasia, crenças, mitos, fé, todos podem ter e se lambuzar com estes comportamentos. Contudo, querer impor estas crenças às pessoas ou cercear ações que desmascaram as mentiras de uma "autoridade" é criminoso.
"Amanhã tem mais ..."
P. S.
(*) Edward Snowden é alguém que fez tudo o que Ellsberg fez, só que a fantasia(3) e a realidade de Snowden são muito piores. Ambos mostraram que uma autoridade, em qualquer tema, não deve ser aquele que está na posição mais alta de comando.
(1) "Entre Sem Bater - Daniel Ellsberg - Falácia da Autoridade" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/06/05/entre-sem-bater-daniel-ellsberg-falacia-da-autoridade/
(2) "Entre Sem Bater - Michel Foucault - O Discurso" https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/05/23/entre-sem-bater-michel-foucault-o-discurso/
(3) "Entre Sem Bater - Søren Kierkegaard - Liberdade de Pensamento" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/06/04/entre-sem-bater-soren-kierkegaard-liberdade-de-pensamento/
(4) "Entre Sem Bater - Edward Snowden - Fantasia e Realidade" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/05/08/entre-sem-bater-edward-snowden-fantasia-e-realidade/