DAQUI PRA FRENTE, TUDO SERÁ DIFERENTE
Todo mundo conhece bem aquele batido ditado, que deixa bem clara a intenção do proponente: de onde nada se espera, daí que não virá nada mesmo.
Para piorar ainda mais a situação, só faltava conhecer à autoria do projeto de privatização, ou melhor, privação das praias, e partiu de um sobrenome tão emblemático como o do capitão, ele mesmo, que até tentou, mas felizmente não teve competência suficiente de levar a pique nossa nau democrática.
O passado serve como testemunha da sempre perversa intenção desses nossos parlamentáveis de plantão, que conseguem em Brasília realizar multitarefas, que fique aqui bem óbvio, sempre com a pior intenção possível.
Esse devotado senador da república enfileira em seu portfólio como atividades principais: ser lobista de armas, do agro, das igrejas neo-evangélicas e ainda ministra frequentemente curso presencial e online da metodologia conhecida como rachadinha, e também de lavagem de valores com chocolate entre outras modalidades.
Com essa proposta aprovada, sempre apoiada pela Câmara e Congresso, e também endossada por criativos empresários do ramo imobiliário e adesão irrestrita dos grandes grupos hoteleiros que pensam em se expandir ao longo do litoral, seguindo a lógica empregada na costa norte da Bahia, que usurpou do cidadão ao banho de mar, restringindo a praia apenas para hóspedes desses grandes resorts.
Para quem quiser assistir uma visão futurística, basta consultar na internet um pacote para Cancun, no México. Lá uma parede de grandes hotéis delimitou para seus hóspedes o uso exclusivo da principal praia da cidade balneário. Esse país conseguiu demonstrar que existe, mesmo não constando como mais um estado americano, um enclave ianque em plena península de Yucatán, tendo o inglês como língua oficial e o dólar como moeda corrente.
Nas áreas ainda desertas e preservadas da costa brasileira, a ideia original, depois de repassadas a propriedade dos terrenos aos estados e municípios, é torná-las rentável, aí vai ser um vale tudo para atrair investidores, fazendo uso de subsídios municipais, estaduais e para os mais criativos, quem sabe o BNDES não abra os cofres federais.
Não ficou ainda claro, como vão adequar esse projeto miraculoso as capitais e cidades de porte localizadas a beira mar.
Quem sabe a inspiração não venha do muro de Berlim, ou a menos agressiva cerca que Trump sonha em construir separando definitivamente a Grande América, do populoso e endividado vizinho do sul.
Aqui vai uma sugestão mais adequada a cidades, cobrança do acesso através de uma espécie de chip, como já existe o Sem Parar para veículos, com um pequeno adendo, que assinale o tempo de permanência na praia. Ao final do mês o boleto seria emitido com o valor a ser quitado.
Talvez algum banco tenha interesse em ganhar a concessão do serviço, e assim como nos pedágios, o cliente apenas encostará o cartão da leitora óptica da catraca, para desfrutar das amenidades a beira mar.
Como todo banco que se preza gosta de hierarquizar seus clientes, logo surgiriam setores especiais para acionistas Premium, com serviços especiais, como aqueles disponíveis em alguns aeroportos mundo afora.
Assim como nos aeroportos, os preços passariam por outra lógica, acabaria esse improviso atual, tudo passaria a ser asséptico e de preferência vinculado a alguma loja de grife.
Por todo esse relato, claro que ficaria proibido o acesso com toda aquela parafernália que muitos frequentadores apreciam carregar, como: barraca, cadeiras e cooler abarrotado de cerveja e refri. Agora tudo passa ser padronizado, inclusive o preço praticado para bebidas e alimentos.
Quem vai mesmo se beneficiar dessas novas regras de frequência às praias, será o aparato de segurança até então fundamental para manter sob controle aquelas verdadeiras hordas que desaguavam nas praias em feriados e finais de semana.