Conversando com a madeira
Quando invento alguma coisa, não é de hoje que durante o processo de criação converso com minhas obras visando um ajuste possível entre nós dois. Lembro com saudades do tempo onde de posse de uma pequena faca de cozinha entalhava em madeira, em geral restos de construção encontrados pelas ruas em caçambas, criando pequenas esculturas fossem elas barcos, animais (cavalos, gatos, tartaruga, coruja, etc.), numa terapia que dava um enorme prazer a minha vida.
Uma coisa sempre me chamou a atenção: como será que ela, obra, se sente ao ser esculpida? Afinal, o processo de criação estava em minhas mãos e como tal, eu me sinto responsável pela sua aparência e, implicitamente, por trás de um projetinho, também busco um conteúdo. Por que? Ora... nunca vi sentido viver unicamente pelas aparências sem um mínimo de conteúdo.
A partir daí, dava uma parada, olhava bem, concentrava me colocando em seu lugar e num passe de mágica vinha a mente as mudanças. Pacientemente, com a pedra de afiar, ajustava o corte da lamina e aos poucos fazia as correções. Interessante que ao mesmo tempo que isso acontecia, formas complementares brotavam dando uma perspectiva mais aprimorada ao projeto. Uma das coisas mais gostosas era quando eu fazia essas novas ferramentas pois fugia muito do convencional indo além do que imaginava fazer.
Pois é.... para mim a vida é isso aí. Da forma como ela passa, não sei o que iremos deixar, mas de minha parte procuro sempre o melhor? Combinado meu barquinho?
Manoel Claudio Vieira – 03/06/2024 – 00:58h