Vida em meio ao caos
Sentada na cadeira desconfortável, na sala barulhenta onde pessoas falam e máquinas apitam, olho para o alto. O teto é branco, quase estéril, como tudo aqui. O soro demora a pingar, cada gota uma eternidade que esfria ainda mais meu corpo. O frio parece vir de dentro, uma sensação que não passa, uma angústia constante. O relógio na parede avança em câmera lenta, como se zombasse da minha espera. Tédio. Medo. Imprecisão. O diagnóstico não é claro, e isso me assombra.
O ar foge de mim, sinto a máscara de oxigênio apertar meu rosto, uma presença constante e incômoda. Ainda assim, encontro entendimento para observar o entorno. Vejo mães com filhos que choram, resistindo bravamente a injeções que não podem evitar. As enfermeiras conversam entre si sobre a escola dos filhos, tentando manter um ar de normalidade enquanto trabalham. Um senhor resmunga de dor ao meu lado, e uma senhora não para de falar com sua acompanhante, um fluxo constante de palavras que parece ser seu modo de lidar com o desespero.
Abaixo a cabeça. De jeans e tênis branco, o celular no colo parece um peso morto. Fecho os olhos, desejando apenas por um momento estar na minha casa desarrumada. Queria sentir a paz no caos do meu trabalho, lidar com os problemas cotidianos que, vistos daqui, parecem tão insignificantes. Queria muito ter uma DR, brigar por coisas que no fundo não importam. Queria reclamar do preço do alho, ficar horas na fila do pão, mesmo não gostando.
A gente nunca está satisfeito com a vida que tem, até entender que ela é boa, perfeita e agradável na medida do possível. Aqui, neste lugar onde o pior pode acontecer a qualquer momento e com qualquer um, compreendo a fragilidade da existência.
Abro os olhos e vejo a vida acontecendo ao meu redor, cada um lidando com suas próprias batalhas. Tento me apegar ao que é certo e conhecido, às pequenas alegrias e às rotinas que antes pareciam tão enfadonhas. Porque, no fundo, a vida é isso: momentos de simplicidade que damos por garantidos, até que algo nos faça parar e olhar para o que realmente importa.
E aqui, com o ar escapando e a incerteza dominando, percebo que, apesar de tudo, quero voltar para as pequenas coisas. Para as brigas tolas, as tarefas mundanas, as rotinas que constroem o nosso dia a dia. Porque é nessas pequenas coisas que reside a beleza da vida. E, neste momento, tudo o que quero é voltar para elas.