Romance virtual

Ainda me lembro das conversas despretensiosas via aplicativo de relacionamento. Entrei ali apenas para saber como funcionava. Para mim, aquilo era só uma breve diversão, pois sempre fui adepta ao olho no olho, à conexão verdadeira. O virtual? Uma bobagem passageira.

Assim que criei o perfil, não demorou mais que alguns segundos para a primeira mensagem chegar. Um cordial "bom dia", seguido de um "como vai?" e um "vamos sair?" tudo numa mesma frase. Logo após, um convite para namorar, passear, tomar um café. E os adjetivos? Ah, os adjetivos... "Gostosa", "delícia", "filé"... misericórdia! O que era aquilo? Uma vitrine de vulgaridades.

Estava prestes a fechar o aplicativo e nunca mais voltar quando uma mensagem diferente surgiu. Um convite para um bate-papo cordial. E então, entre tantas outras conversas descartáveis, aquela me cativou. Ali, naquele espaço virtual, uma amizade começou a nascer. Cumplicidade, afinidades e desejos – nessa ordem.

O improvável aconteceu: me apaixonei por um ser virtual. Seria um holograma? Não. Era um homem real, mas compromissado. Vivemos um romance sem toques, sem olhares trocados, mas cheio de emoções. Choramos, sofremos, seguimos adiante. Voltamos a nos falar, brigamos inúmeras vezes. Nunca nos vimos, nunca nos tocamos, mas parecia tão real.

Os anos passaram. Aquelas conversas que antes eram quentes e revigorantes tornaram-se esparsas. Eu sentia que algo mudara. O coração dele já não estava mais ali, pelo menos não como antes. Hoje, ele está lá, naquele mesmo aplicativo.

Eu olho para trás e vejo como a tecnologia pode nos enganar, nos levar a caminhos inesperados. O virtual que eu tanto desprezava tornou-se palco de uma parte significativa da minha vida. E agora, resta-me a lembrança de um amor que nunca se concretizou, mas que foi intenso enquanto durou.

Sigo adiante, com a certeza de que, por mais real que pareça, o amor precisa de mais do que palavras digitadas para sobreviver. Precisa de olhares, toques, presenças. Precisa de verdade. E essa, talvez, ainda esteja por vir.

Bianca Baptista
Enviado por Bianca Baptista em 02/06/2024
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