QUANDO TU TE TORNAS INVISÍVEL

Fazia tempo que ela carregava no peito uma dor angustiante, dessas que nos tira os sentidos, que nos confrontam, que nos obriga a se encarar no espelho e procurar algo bom naquela imagem refletida, quando ninguém mais os vê.

As lágrimas vinham a qualquer tempo, mas não podiam dissolver a dor. Rastejava dia após dia, horas inteiras de desespero, controlando a respiração, tentando relaxar o corpo.

Se você observar uma pessoa com dor, seu corpo todo enriquece, o coração parece sempre disparado. É como se tivesse um punhal te rasgando por dentro, por tantas vezes tentou enfiar as mãos pela boca e arrancar a dor.

No último dia quando ela voltava do trabalho, nas primeiras horas da manhã, atravessou as avenidas, sentindo como se tivesse sido deixada pra trás num apocalipse, pensava que nesta hora todos os mortais haviam sido arrebatados, e festejavam a nova era enquanto ela sangrava sob as ruínas da cidade esquecida.

Faz algum tempo que sentia como se não a enxergassem mais. Embarcou no ônibus de volta pra casa e se sentou no mesmo lugar invisível de todos os dias.

Quando chegou no ponto de desembarque, tropeçou no último degrau, e caiu sobre o calcamento onde passavam as pessoas com pressa.

Não estava ela sozinha no Apocalipse???

Pois bem, continuemos...

A dor do pé torcido veio com toda força fazendo com que quase desfalecesse, não era tamanha feito a dor que trazia na alma, mas era uma dor considerável.

Não consegui se mover e assim naquele cenário de mais completa humilhação, chorou!

Quanto mais doía a dor física, mais forte ela chorava, na verdade estava se aproveitando da dor do acidente pra dissolver um nó que já estava te sufocando a garganta.

Quanta dor!!! Mas o que quero contar pra vocês, é que nesse instante que todas as suas dores se misturaram, ela por fim recebeu um afago de um desconhecido que improvisou com a sua mochila um modo que ela recostasse sob a marquise.

Recebeu também uma garrafinha de água de uma senhora que se dividia entre lhe oferecer água ou uma balinha de hortelã se ela quisesse.

Também uma jovem desamarrou seus sapatos quando percebeu que era ali lhe doía. E o rapaz da mochila se prontificou acompanhar ela até hospital se fosse preciso

Disse que nao precisava, por que só queria voltar pra casa e chorar no seu cantinho sem plateia. Logo ela que amargurava a dor de não ser vista.

Quando conseguiu se recompor, a senhorinha acompanhou a moça até sua casa, oferecendo ainda a água, as balinhas e um tanto de guloseimas que prometeu fazer caso ela quisesse se recuperar em sua casa.

Ela ficou comovida com tamanho afeto, mas agradeceu pois estava realmente com pressa de chegar em casa e tomar um remédio pra dor no pé.

-E não vai querer que eu faça nada minha filha?

Ela era uma senhorinha tão pequenina que fingiu se apoiar em seu braço.

-A senhora pode me dar um abraço?

Ela me abraçou e eu ajeitei sua touquinha de crochê nas orelhas, e agradeci.

A vida pode nos machucar de tantas formas, mas ainda resta nos homens a HUMANIDADE

Thaís Mendes
Enviado por Thaís Mendes em 02/06/2024
Código do texto: T8077041
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