Tempos Difíceis E Tempo sem Graça

Era noite num certo sábado, tudo igual como nos outros sábados e dias e dias. Silêncio em toda parte. Quase sozinho numa casa cheia, como sempre, nada de novo e a mesma graça em nada.

Opa! De repente, um vídeo novo no celular. Um vídeo novo cheio de velhas lembranças, pura nostalgia dos anos oitenta, tipo : Festas nas casas ( não em sítios nem salões) , amigos nos portões, pois, ainda po- dia, olhos brilhantes sem medo, e famílias gozando juntos um pouco de tempo livre.

Num piscar de olhos ele estava lá, atônito! Um adolescente privado de muitos bens e afortunado de boa família. O charme estava em tudo que era visto e vivido : Nos portões enturmados, nas turmas de cada rua, nas brincadeiras, nas escolas, nas matinês, em fim, havia charme em tudo mesmo, até nas filas dos telefones públicos

( saudosos orelhões ). Ruas de terra, luzes incandescentes, músicas românticas, praças, campos, jardins...

Finalmente, em casa de novo, com a comida simples da mãe e os valiosos conselhos e ensinamentos daquela que parecia saber de tudo sem se quer ter ido ao primário, grande despenseira de valores morais e normas básicas de boa convivência social. Sentiu outra vez aquele orgulho por ser irmão das moças mais lindas de todo o bairro e pelos carinhos recebido por elas, ainda que a mais velha só podia vir em fins de anos. Aí, era lidar com as saudades. Se orgulhara também do irmão que era de muita popularidade e muito bem querido nas redondezas. Agora , era mandar cartas escritas a punho, apesar da incerteza das entregas e da ansiedade das respostas, afinal, saudade só se matava assim, quando não se podia dar um abraço; as vezes, um cartão postal, também notícias, boas ou ruins... Aí também havia o charme!

Na lentidão das horas, na demora das coisas, na dureza da vida, na eternidade dos anos... As dores e as lutas eram doces. Mais doces que as alegrias e as posses desse tempo que ele acabara de retornar com o sinal de uma nova postagem que recebera de um amigo que mora bem em frente a sua casa, só que, desta vez, um vídeo obsceno e uma mensagem com os dizeres : " vc tá sumido " , coisas típicas desse tempo atual.