SALVO-CONDUTO
São tantos os troféus que carrego dentro de mim. Alguns acanhados, reclusos nos próprios porões, de vãos trêmulos e passo atroz. Outros vastos, de casca forte, cravados de brilhos e inquietudes faceiras. São troféus rimados, outrora estraçalhados pelas querelas do caminho, outrora fatigados por conta dos ventos indóceis que os atazanavam, estatelando rebeldias nas suas ancas puídas e fugazes. Cada troféu que trago faz questão de viver desnudo, quem sabe untado de algumas das loucuras que vivem me entretendo sem cansar, sem perdoar. São brilhos divinos, absurdamente lindos, que penduro nas costas feito salvo-conduto, feito réquiem ardente de um candango metido a gavião.