E agora José?
09/10/2007 22:47
- E agora José?
Pois é. Estou eu bem no centro de um furacão. E tendo de decidir para que lado ir.
Quarta-feira da semana passada participei de uma audiência-pública estadual em Florianópolis na Assembléia Legislativa. Na oportunidade tinha minhas contribuições a dar como conselheira estadual de assistência social e como cidadã. Mas, por um erro da assessoria da coordenação da audiência, eu que fui a primeira a me inscrever nas falas, fiquei por último.
A audiência iniciou as 9 hs da manhã e como já era quase 1 hora da tarde decidiram dar a última fala para a secretária de AS e eu ficaria assim impedida de falar.
Ah! mas fiquei revoltadíssima e fui à mesa exigir que me permitissem falar. Como não fui atendida, manifestei minha indignação em voz alta na plenária e disse que não tinha lutado por aquela audiência e saído às 5 hs da manhã de minha cidade, para não dar minha contribuição e nem explanar as propostas que tinha trazido e julgava pertinentes e que até o momento ainda não tinham sido apresentadas.
A plenária acatou minha indignação e começou a gritar que eu me dirigisse ao microfone para falar. E foi o que fiz. Dirigi-me ao microfone e fiquei esperando a mesa liberar minha fala. Alguns minutos de confusão e por fim, me deixaram falar. Naquela altura eu já estava alteradíssima e foi difícil falar com calma.
Dirigi minha fala inicial ao presidente de nosso conselho, dizendo que este conselho, agora mais do que nunca dever ter um compromisso com a política pública de AS do estado de SC.
Depois dirigi minha fala à plenária, parabenizando-a pela presença, não pelo número (em torno de 200 pessoas), mas pela representatividade que trazia.
Em seguida destrambelhei. Destrambelhar quer dizer, deixei toda minha revolta e indignação aflorar e perguntei à deputada que coordenava a mesa, onde estavam os deputados que deviam estar ali naquele momento, os que não vieram e os que estavam ali e foram embora (só restaram dois).
A plenária respondeu à pergunta com um: Fugiram!!
Perguntei à mesa onde estava o Sr. governador do estado que para inaugurar um campo de futebol, participar na abertura de uma festa se fazia presente e para discutir a política pública de A. S. de seu estado não comparecia... A mesa respondeu que a secretária de assistência social o representava.
- Muito bem representado, disse eu. E a plenária gargalhou.
Em seguida perguntei à secretária de assistência social, que havia dito não ter dinheiro no Fundo de Assistência, onde ela achava que estava esse dinheiro. Diante de seu silêncio eu mesma me respondi:
- Foi roubado. Foi roubado do Fundo de A.S. e colocado no Fundo Social. A plenária foi à loucura. Então perguntei à plenária para onde eles achavam que ia o dinheiro do Fundo Social.
- Para fazer politicagem, alguém gritou.
- Para construir cancha de bocha.
- Para as associações de bairro realizarem eventos.
- Para pintar aquela igreja.
- Para reformar aquele campo de boliche.
E assim a plenária ia gritando sua indignação.
Depois falei novamente aos dois deputados presentes, dizendo que eles podiam fazer alguma coisa e então apresentei minhas propostas:
- Remanejar, por meio de emendas parlamentares, dinheiro de outras secretarias ou mesmo do Fundo Social para o Fundo de A. S.
- Fazer suplementação com dinheiro gasto em publicidade para o fundo de A.S.(essa proposta tambem foi do Ministério Público presente).
- Solicitei aos deputados presentes fazerem uma nova audiência pública com todos os deputados para apresentarmos a eles a política pública de A. S. do estado de SC.
E terminei minha fala, dizendo ao um dos deputados presentes que disse serem as crianças flores:
- As flores me encantam e me fazem amar mais! E é esse amor que está lá na ponta da corda que sempre estoura, lá onde está a criança, onde está o idoso, onde está a mulher vítima de violência, onde está o excluído....
Bom, enfim, essa foi minha participação que agora me jogou no meio de um furacão. Após a audiência que só terminou as 13:30 hs, fui convidada pela assessoria de uma deputada estadual a almoçar com ela.
De primeiro momento tive de recusar o convite pois ainda tinha uma rápida reunião com a mesa diretora do conselho. Eles aceitaram a recusa e se foram.
Então estava eu conversando com o presidente do conselho quando tocou o celular. Era a dita deputada me convocando para o almoço sem aceitar recusas. Bom, eu tinha de almoçar e agora já estava curiosa para saber o porque de tanta insistência.
A surpresa veio quando cheguei ao restaurante dos deputados. Esperavam-me duas mesas com cerca de oito pessoas reunidas. Todas membros do PT estadual. E ao lado a assessoria da deputada do mesmo partido.
Eu, vermelha como um pimentão e meio tremendo me sentei à mesa e fiquei aguardando. Então a deputada tomou a fala e me fez um convite de quase me fazer cair de costas ao chão:
- Meus assessores ficaram encantados com sua fala na audiência. Eu ainda não te conhecia para além de nosso encontros em eventos desse tipo, mas já tinha ouvido falar de ti, das tuas lutas, do teu comprometimento, da tua clareza política e etec... etc... só mel....
Diante disso temos um convite a te fazer:
- Estamos convidando-a a se candidatar ao legislativo na câmara de Blumenau.
E temos um segundo convite:
- Gostaríamos que esta candidatura fosse pelo PT.
Bom, o choque me paralisou por uns momentos. Estarrecida ouvia as falas de cada um tentando me entusiasmar pela ideia. Por fim me deram a palavra.
Eu, de pronto disse não para as duas propostas e expliquei porque. Que achava que como cidadã eu tinha mais liberdade de brigar e lutar do que como pessoa pública. Que tinha já definidos propósitos de vida onde a vida política não passava das contribuições que eu já dava. Que por motivos óbvios não poderia me filiar ao PT e nem tinha o desejo de me filiar a qualquer outro partido. Que discordava de algumas bandeiras que o PT levantada e que jamais poderia ser conivente com elas.
Bom, eu fiquei toda tímida ao falar isso, mas falei, venci o medo de estar com pessoas fluentes no falar e no pensar e disse o que pensava. Escutaram, disseram me respeitar, sabiam que discordava de algumas bandeiras pelos embates que já tinha tido com pessoas do PT em conferências, seminários e tudo o mais. Mas, não aceitaram o meu não. Nenhum deles.
Pediram que eu levasse ao meu marido e à diretoria de minha entidade para que pensassem sobre ter um representante do segmento na câmara dos vereadores de Blumenau e quem sabe no futuro, mais além.
Disse que não mudaria de opinião, mas que para cumprir o pedido, levaria o assunto a eles sim. E foi o que fiz.
E agora, recebo e-mails de cá, falas de lá, a maioria me incentivando a aceitar. Nesta quinta-feira, teremos uma reuniao de diretoria, onde levarei mais uma vez o assunto e ouvirei a mesma. Nem digo que meu marido é o maior incentivador.
Mas ainda bem que quem decide sou eu. E agora estou assim, no meio do furacào de conselhos e incentivos... Haja coração para aguentar isso tudo.
Devo dizer que fiquei feliz com o reconhecimento público, à nível estadual do que faço. Tendo passado por momentos em 2006 onde me senti um trapo e completamente desvalorizada em meu voluntáriado, ver que alguém deu importância e valor ao meu trabalho voluntário foi muito importante para mim.
Então é isso. E agora Josë?