PRESENTE
No fim de um dia de trabalho duro na roça, voltando pra casa, enxergava o chão lastrado de licuri.
-Sexta-feira a gente apanha – comunicava - antes do gado passar por aqui.
Na sexta, cansada de uma semana inteira de trabalho, agachava-se e catava os licuris, enchia seu próprio chapéu de palha.
No fim de semana, quebrava-os com um martelo, ela mesma, segurando-os entre os dedos, um a um.
-Só presta bolinha inteira – afirmava.
Quando tinham bolinhas suficientes, pegava linha e agulha e começava a fiar, entre seus dedos, uma a uma.
Terminava dois colares pra levar na segunda sob encomenda para a feira.
-Tanto trabalho pra fazer. Vai vender? -Questiona alguém.
-Não, aqui pra meus netos!
Chegada á segunda, caminhão de feira.
Na porta da casa, presente na bolsa, duas crianças em frente à TV nem a notam.
-Olhem sua vó!
Corriam ao seu encontro, pediam a bênção. Recebiam cada um o seu colar e voltavam pra TV à devorar aquele tipo de amor, uma a uma, sem nem perceber, sem se dar conta do valor.