MENTIRA NAS REDES SOCIAIS
Eu tomo meus tragos e tenho os meus defeitos. Não vou me fingir de santo, por que todas as máscaras um dia caem e eu não sou exemplo para nada.
Mas tenho um poder de observação, de observar calado as besteiras que os meus semelhantes cometem, principalmente nas redes sociais.
Está circulando no Facebook um texto atribuído ao poeta mineiro Affonso Romano de Sant'Anna e que, dependendo da ideologia do usuário da plataforma, pode ser usado contra o atual presidente Lula ou à atrocidade que o antecedeu, o famigerado Jair Messias Bolsonaro.
Ao que consta, não foi escrito para atingir nenhum dos dois.
Segue um trecho do poema que circula no Facebook:
"É presidente que Mente, Mente de corpo e alma, completamente/Mente, e Mente de maneira tão pungente que a gente acha que ele mente sincera/Mente. Mas que Mente, sobretudo, impune/Mente…"
Na verdade, segundo eu pesquisei, trata-se de uma adaptação aos tempos atuais de um poema escrito por Sant'Anna depois do atentado do Riocentro, em 1981, um texto que falava sobre o governo da época.
Muitos anos antes de Lula e Bolsonaro candidatarem-se à presidência. Ou seja, plágio feio e descarado.
Na verdade, o texto original é outro:
"Mentiram-me. Mentiram-me ontem e hoje mentem novamente. Mentem de corpo e alma, completamente. E mentem de maneira tão pungente que acho que mentem sinceramente. Mentem, sobretudo, impune/mente."
Não é a primeira vez que se usa as redes sociais para semear o ódio e a descriminação, utilizando fontes pífias e não confiáveis. Mas até agora aparentemente a Poesia estava livre dessa distorção. Não está mais.
Esses tempos de calamidade pública, como foram as enchentes no Rio Grande do Sul, dessiminaram verdadeiras enxurradas de fake news e informações distorcidas. O ódio tomou conta das redes sociais, principalmente por que é ano de eleição, quando os ânimos costumam ficar exaltados.
Mas é triste ver que tem gente - e gente bastante ilustrada - que não pesquisa as fontes do material antes de espalhá-lo na mídia. Desta vez atingiu o poeta mineiro, um senhor de idade bastante avançada (nasceu em 1937 e escreveu vários poemas de protesto contra a situação política e social do país), que nada tem a ver com a história.
Recomenda-se pesquisar exaustivamente as fontes antes de publicar qualquer material. De mentiras já bastam alguns políticos, que costumam mentir mais vezes do que o número de estrelas no céu. Principalmente em ano de eleição.
O Rio Grande do Sul enfrenta uma de suas maiores catástrofes das últimas décadas. Pessoas perderam tudo que tinham, algumas perderam até entes queridos. Não é tempo de esparramar o ódio ao seu semelhante.
E principalmente não é tempo de espalhar notícias falsas e conteúdos não confiáveis.
A verdade agradece. E neste caso específico abordado, a Poesia também.