TERCEIRIZAR

Com o passar do tempo novas atividades foram incorporadas ao dia-a-dia da crescente população, originada pelos novos ramos familiares. Formaram-se povoações e a consequente necessidade de otimizar as produções de bens e serviços.

Nascia assim a terceirização.

Aquelas produções que antes eram verticalmente lineares, com princípio meio e fim executados por uma só pessoa, precisou ser delegada aos auxiliares que eram treinados até que se tornassem aptos para desempenhar as tarefas com perfeição.

A necessidade de repor mão de obra competente, fez surgir as escolas de aprendizes de artefatos de ferro, madeira, couro, tecidos, cerâmica, construções, filosofia, oratória, poesia, ciências, música, artes cênicas e plásticas...

Nascem assim:

- o conceito de “obra prima” que avaliada por mestres, dava ao novato o reconhecimento da sua capacidade produtiva em prol da coletividade;

- e os centros de formação que mais tarde receberiam o nome de Universidade.

Hoje essas “obras primas” recebem os nomes de TCCs (trabalho de conclusão de curso), Dissertações de Mestrado, Teses de Doutorado ou pós-Doutorado.

Num exemplo bem simples, até o início da revolução industrial existia a pessoa que plantava o algodão, fazia dos tratos culturais, colhia a safra, limpava a pluma, tingia, cardava, fiava, tecia, cortava e confeccionava a vestimenta ou qualquer outro artefato.

Nos dias atuais, apenas por tradição, existem pessoas que mantêm essas práticas artesanais.

Fatiada a produção, surgiram as especializações com o objetivo de otimizar a produção e atender à demanda crescente.

Especializar-se é saber cada vez mais sobre cada vez menos e a terceirização atingiu patamares nunca antes imaginados pelos mortais iguais a mim.

Criar filhos, por exemplo, que antes era obrigação dos pais biológicos ou adotivos, passou a ser atribuição de creches que são obrigadas a receber crianças a partir dos quatro meses, antes mesmo de que se concluam os seis meses de aleitamento materno recomendado pelos “especialistas” em nutrição neonatal, tudo de acordo com a hipocrisia explicitada no estatuto da criança e do adolescente onde os direitos se sobrepõem aos deveres.

Tal e qual gado criado livre em beira de açude, essas crianças não recebem na educação doméstica, as instruções de civilidade, as noções de ética e da moral do seu grupo social que são atribuições exclusivas da família.

Pelos parâmetros do desastroso método Freiriano, esses conceitos de civilidade não podem e não devem ser transmitidos aos miúdos para que eles “construam“ através de “vivências” totalmente aleatórias as suas imanências no tecido social, a realidade material em sua concretude.

Francamente, essa bestialidade pode ser comparada à esperança de que alguém que não tenha qualquer noção de interpretação musical execute ao violino com a maestria necessária o Concerto nº 1 de Niccolò Paganini.

Os profissionais das creches não podem, por força de lei, transmitir e manter o comportamento adequado para o convívio social, formando assim as legiões de vândalos, destruidores do patrimônio público, que agridem os colegas, professores e serventuários das unidades, com dentadas, chutes, arranhões e pancadas.

E as famílias, quando atendem aos convites para conversar sobre o comportamento agressivo dos filhos, com cinismo enervante, são unânimes em dizer – eu não posso com esse menino; não sei onde ele aprendeu a fazer isso...

Quando em casa, o aparelho celular entregue antes de qualquer coisa, é a única forma de “amansar” a fera que sem o real diagnóstico de qualquer dos diversos níveis de autismo ou déficit de atenção, ao manifestar o kraken da mitologia nórdica que habita o seu ser, precisa de umas boas palmadas naquele espaço onde a coxa muda de nome quando se liga ao tronco, porque a criança precisa de limites, de saber que existe e que deve ser obedecida a hierarquia social e principalmente de alguém que, com amor e dedicação livre de interesses, lhe dê as diretrizes para a infância feliz, alimentação saudável, em ambiente social tranquilo, honesto e digno para evitar que a marginalidade lhe absorva e imponha os limites que regem a facção criminosa que a acolheu.