Ex tReMa ... estava em ‘sequestro’ (testemunho dramático aos fortes)
Ele era visto sempre acima, esclarecendo o modo de falar... fazendo distinção para quem o lia.
Hoje, não passa de: ‘ex’ trema.
Aqui, logo, abaixo, o testemunho dramático sobre o extermínio desse auxiliar da linguagem escrita e pronunciada.
ASPAS abertas para a testemunha.
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Por que retiraram o trema da língua portuguesa? Ele não era útil?
Por: Jorge Madeira Mendes
(Antigo tradutor, revisor e controlador da qualidade em Comissão Europeia entre 1989 e 2018). O autor tem 259 respostas e 424,1 mil visualizações de resposta)
(Atualizado Há 4 anos)
Ignoro a razão exata por que retiraram o trema, mas que ele era útil, isso era.
Assim, a palavra "quente" pronuncia-se /kente/, mas a palavra "frequente" pronuncia-se /frekwente/, sem que nada permita entender tal discrepância.
É pela falta de uma qualquer pista que a palavra "quinquenal" se pronuncia por vezes /kinkenal/, quando deveria ser /kwinkwenal/.
Ou que "sequestro" e "sequestrar" se pronunciam cada vez mais /sekestro/ e /sekestrar/, quando deveriam ser /sekwestro/ e /sekwestrar/.
Penso que estas situações demonstram (ou, pelo menos, indiciam) não se dever dizer que o trema era inútil porque "as pessoas sabem como pronunciar as palavras". Por tal lógica, escusaríamos de usar a cedilha e/ou o til, e "maçã" poderia escrever-se "maca", "aí caí" poderia escrever-se "ai cai" e por aí fora. As pessoas saberiam como pronunciar, não?
Se o trema complica a escrita, poderíamos adotar outros métodos para indicar que o "u" de, por exemplo, "frequente" deve ser pronunciado, mas não o "u" de "querer". Olhemos para o espanhol e/ou o italiano, duas línguas muito próximas da nossa mas ortograficamente muito mais coerentes.
O espanhol é fonético (no sentido de que a ortografia foi planeada de modo a corresponder com um máximo de fidelidade à fonética, isto é, à pronúncia); portanto, quem conhecer as regras da ortografia espanhola sabe ler corretamente esta língua. Já o italiano, embora também bastante fonético, tem uma deficiência no caso das palavras esdrúxulas (proparoxítonas), que, por não levarem acento gráfico, não são identificáveis como tais: por exemplo, Milano não é palavra esdrúxula (proparoxítona), pelo que deve ser lida como /Miláno/, mas Genova é palavra esdrúxula (proparoxítona), pelo que deve ser lida como /Djénova/ sem que nada permita, à partida, adivinhá-lo. Mas este é apenas um detalhe do italiano que não afeta o argumento aqui em causa.
Quais foram então os meios pelos quais o espanhol e o italiano definiram, inequivocamente, as situações em que que se deve pronunciar /k/ ou /kw/?
Em espanhol, o par de letras "q+u" lê-se sempre (mas sempre!) como /k/, nunca como /kw/. Por exemplo, querer lê-se /kerer/, Aquino lê-se /akino/. Quanto à palavra correspondente à portuguesa "frequente", em que se pronuncia o "u", em espanhol escreve-se frecuente. E a correspondente ao nosso "quando" escreve-se, em espanhol, cuando. Dito de outro modo, nas palavras em que haja o fonema /kw/, este é sempre representado pelo par de letras "c+u", e nunca há ambiguidade em relação ao par de letras "q+u", que representa sempre o fonema /k/ (e só aparece antes de “e” ou “i”, a menos que se trate de palavra estrangeira).
Em italiano, o par de letras "q+u" lê-se sempre (mas sempre!) como /kw/, nunca como /k/. Por exemplo, quando lê-se /kwando/, questo lê-se /kwesto/, qui lê-se /kwi/. E, se for preciso representar o fonema /k/ antes de "e" ou de "i", utiliza-se o par de letras "c+h": por exemplo, anche lê-se /anke/ e chiaro lê-se /kiaro/. No italiano, também não há qualquer ambiguidade entre a ortografia que representa o fonema /kw/ e a que representa o fonema /k/.
Talvez fosse útil aprendermos, nós lusófonos*, com as soluções elegantes que outros delinearam.
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ASPAS fechadas para a testemunha.
*Lusófono = cuja língua oficial ou dominante é o português (diz-se de coletividade).
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Testemunho do autor Jorge Madeira Mendes, extraído na íntegra de:
“Por que retiraram o trema da língua portuguesa? Ele não era útil?”
https://pt.quora.com/Por-que-retiraram-o-trema-da-língua-portuguesa-Ele-não-era-útil
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Voltando e finalizando, aqui o Zezé.
Da coleção zezediozoniana: “Os olhos leem o título do texto e a imaginação fica extrema”