AH, ESSES BRASILEIROS

AH, ESSES ARGENTINOS

Estuário do Prata. O avião atravessou aquela imensidão de água. Duzentos e vinte quilômetros de uma margem à outra. É imenso. Os rios Paraná e Uruguai se juntam com as águas salgadas do Atlântico para formar aquela porção aquática enorme.

Descemos suavemente no Aeroporto Jorge Newbery e, em seguida, pegamos um táxi para o Hotel Pestana, na Avenida 9 de Julho, onde havíamos feito reserva.

Turista tem fama de otário e eu não só fui como recebi o certificado. O taxímetro acusou o valor de 120 pesos, mas o motorista alegou uma sobretaxa de mais 20, totalizando 140 pesos.

Naturalmente não discuti a sobretaxa. Estava em terras estranhas e não convém discutir sobre aquilo que nada sabemos. Vai que a taxa existe.

Peguei uma nota de 100 e outra de 50 pesos e entreguei ao taxista. Do banco de trás não pude perceber sua movimentação, mas estranhei quando ele me mostrou duas notas de 10 pesos dizendo que eu havia me enganado. Confesso que fiquei muito desconfiado, mas distraído como sou, não tive certeza e, novamente não quis discutir. Substitui as notas.

Já no apartamento fui conferir os pesos que havia trocado no aeroporto e dei falta de 130 pesos.

É inevitável fazermos comparações entre as situações que vivemos em uma viagem ao exterior e o que acontece no nosso Brasil. Sempre achamos que aqui acontece o pior. E acho que merecemos a má fama, pois nossa conduta, via de regra, não é nem um pouco exemplar. Nunca esqueço, em Verona um italiano perguntou nossa nacionalidade e sua exclamação após lhe contarmos: - Ah, brasiliano! Copacabana... Carnaval. Italiano laborando... Brasiliano em vacanza! É a fama! Só faltou nos chamar de vagabundos.

À noite, quando fui ligar a TV, dei pela falta do controle remoto. Liguei na portaria e solicitei que providenciassem a reposição. Recebemos a resposta que ele estava ali quando chegamos. Ah, esses argentinos. Desconfiando que teríamos consumido com o controle remoto. Maldita fama a que temos.

Na manhã seguinte, sem solução para o controle remoto, reclamei para a camareira:

- O controle remoto da TV sumiu.

- Sumio? Mui estranho, disse ela, com cara de desconfiada. Era só o que faltava. Até a camareira achando que subvertemos o aparelhinho insignificante.

- Sim sumiu.

- Ah, esses brasileiros, disse ela baixinho.

Quando voltamos um novo controle remoto repousava sobre a cama.

- Veja como é, eu disse para minha esposa, se não é nossa insistência ficaríamos sem o controle e com má fama.

Chegando em casa, ao desfazermos as malas, o que foi que eu encontrei no meio das roupas?

Acertaram... Um controle remoto argentino.

Acho que, realmente, não somos de confiança e confirmamos a fama.

Eles devem estar repetindo lá em Buenos Aires: Ah, esses brasileiros!

CLEOMAR GASPAR
Enviado por CLEOMAR GASPAR em 29/05/2024
Código do texto: T8074429
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