novembro
Um pequeno conflito entre meninos de rua acontece na Avenida ao lado do prédio, de frente à minha varanda.
Dois, já grandinhos, tem uma bike e um porrete. Outros três, menores, cheiravam cola quando cheguei do trabalho e fogem dos dois.
Há troca de tapas, empurrões, pedras e paus. Eu penso, sobretudo, que devemos lhes garantir a integridade física.
Penso em ligar para a Polícia para que lhes garanta a segurança e os afaste, íntegros, sãos, dos maiores. Hesito. Desisto. Temo que a Polícia confunda minha preocupação com medo e, acima disto, que confunda a função de salvaguardar a vida de pessoas, neste caso, de crianças, na obstinação em punir.
Tenho medo que trancafiem estes meninos. Tenho horror.
Penso o quanto estão abandonados à própria sorte. Até eu, que me agora angustio, não sei o que fazer para ajudá-los.
Que sociedade terrível esta em que é melhor contar com a sorte do que com o Estado para traçar os destinos de meninos nesta noite!
Esta noite, eu já sei: não vai amanhecer...
Recife, 01 de Novembro de 2016.