O Efeito de um Diagnóstico

O que fazer quando acha que seu tempo está acabando?

Se fosse uma resposta fácil, estaria na ponta da língua...

Tudo começou quando ele estava indo pra casa pedalando, como fazia todos os dias. Acontece que aquele dia era diferente, sua perspectiva de vida mudaria drasticamente.

Estava há uns três quarteirões do seu trabalho, sentiu uma dor terrível no peito. Parou a bicicleta e sentou-se na calçada. A dor forte parecia que não ia ceder, e veio acompanhada de uma dificuldade pra respirar.

Por quarenta minutos, sofreu ali, sentado no chão. Ninguém reparou que ele estava passando mal, todos seguiam suas vidas pela rua, ninguém percebeu nada. E diante de todos, ele se sentiu sozinho.

A dor foi diminuindo aos poucos, conseguiu se levantar. E continuou seu caminho até em casa.

No outro dia cedo, foi ao médico. E após passar por exames, descobriu que havia sofrido um infarto. Ele só tinha 45 anos.

O médico indicou muitos outros exames em busca de um diagnóstico.

Após realizar os exames, descobriu que todos os anos que fumou cigarro, agora estavam cobrando o preço. Uma artéria estava obstruída quase que por completo. E após o último exame, constatou que a obstrução estava calcificada,por isso a única alternativa era cirurgia. Uma cirurgia arriscada, com previsão de cinco horas de duração,e seria necessário abrir o peito.

O desespero dele não era possível disfarçar, nem mesmo com seus inseparáveis óculos escuros.

Ele não queria contar pra ninguém, mas não conseguiu guardar isso só pra si mesmo.

O normal é a pessoa se refugiar na família, mas não era o caso dele. É o mais novo de dois irmãos, e não fala com o irmão mais velho há anos. A mãe faleceu no ano passado, o pai é idoso.

Ele é divorciado e não tem namorada, e nem filhos, uma pessoa realmente sozinha.

Quando me contou, não consegui fingir que estava tudo bem. Lembrei de um conhecido que estava na mesma situação, entrou conversando e rindo pra fazer a cirurgia, e não saiu vivo. A família no corredor do hospital, esperando a notícia, e o médico chega e diz que ele não havia resistido.

Essa lembrança me veio na memória na hora.

A preocupação dele é evidente, ele me disse que está com medo. Eu o entendo, mesmo nunca tendo passado por isso, sei que não é fácil.

Não sei como essa história vai continuar, ele vai fazer a cirurgia no mês que vem.

Espero sinceramente que ele sobreviva, e volte a ter uma vida normal.

A questão é que todos nós estamos sujeitos a morrer a qualquer momento, pelos mais variados motivos. Ainda que não levamos em conta isso.

E o que é preciso fazer antes de morrer?

Saltar de paraquedas?

Fazer as pazes com as pessoas que temos problemas?

Aproveitar cada minuto e momento que resta?

Por mais incrível que pareça, o fim da vida tem mais perguntas do que respostas. Um questionário infinito. Deveria ser o contrário, como uma epifania que mostrasse o que é realmente importante na vida.

Talvez seja o momento de refletir sobre tudo que viveu, tudo que fez ou deixou de fazer. Buscar a paz em Deus, e esperar encontrar o paraíso. Quando nosso tempo se acaba, só acaba pra gente.

A sensação de ser importante, status e o orgulho, termina enterrado. O cemitério está lotado de orgulhosos, que agora tem endereço fixo, eternamente. A vida é curta, e a morte chega pra todos, às vezes sem avisar. E os arrependimentos, costumam chegar primeiro.

Peço a Deus que esse meu amigo tenha uma nova chance, que continue a sua vida após a cirurgia.

Abreu Lima
Enviado por Abreu Lima em 28/05/2024
Reeditado em 28/05/2024
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