ATÉ TU, ESTRELA DE QUINTA GRANDEZA?
Ponho-me a garatujar divagando sem rumo pois que o pensamento absorto no vazio, rabiscando apenas por rabiscar sem objetivo definido, desatento à Quinta Sinfonia de Beethoven que ecoa em som ambiente no quadrilátero da sala enquanto lá fora o céu chora lentamente, molhando tudo com suas lágrimas cristalinas. A tarde é aquele mar de atônita melancolia e perplexa morosidade, nada voa, nada circula além de abalado platonismo estéreo.
O tempo se arrasta como sob doloroso fardo em seu dorso cansado, parece abatido a suplicar ajuda para prosseguir a jornada que já vem fazendo desde priscas eras imemoriais, neste dia especialmente árdua. A modorra adiante, alhures, por toda parte se exibe nítida, saltando aos olhos, quem olha através das janelas em busca de algum alento para a alma sem graça só vislumbra a mão da tristeza deslizando na invisibilidade oculta ao olhar.
Uma tarde chuvosa e sombria assim tem o amargo condão de dardo arremessado ao âmago do coração, que quase beira a agonia quando atingido. Saem de casa apenas os comprometidos com assunto sério anteriormente agendado, em sã consciência permaneceria às portas fechadas enroscado nos roupões aveludados. Perceptível a sensação daquele friozinho pedindo aconchego da amada sob as cobertas.
A melodia Beethoveana dissipou-se pairando o silêncio, a falta de inspiração para continuar gravetando textos aleatórios e desprovidos de sentido retarda os dedos que digitam. A mente suspira sem palavras, desmaiaram os verbetes nas ondas mornas das ideias. Que mais enfocar se inexiste contexto? O iminente ocaso só faz chorar, o sol correu de medo da chuvinha, talvez achou melhor esconder-se nalguma toca cósmica e agora esteja todo agasalhado num edredom arco-íris. Até tu, estrela de quinta grandeza?