A hora de calar

 

Um dia desses – faz, mais ou menos, um mês –, estávamos na fila do caixa eletrônico do Banco do Brasil, agência da Cidade Nova, quando, de repente, uma das pessoas começou a demorar muito, não sei se porque não sabia operar o terminal ou se porque fazia muitas operações. O fato é que demorou para valer, como se lá chegara, de mala e cuia, para ficar.

 

Havia cerca de sete a oito usuários na minha frente e eu também tinha pressa, mas fiquei na minha. Fui amadurecendo e, com o tempo, aprendi a procurar ficar calado e me acalmar nestas horas, pois, se começo a falar, me aborreço mais ainda. Não marquei o tempo, mas foram talvez uns dez minutos, o que, em situações como a descrita, parece ser uma hora.

 

Irritado, o usuário à minha frente virou-se para mim e, criticando asperamente o indivíduo que demorava, me disse que aquilo era um absurdo, coisa que só acontecia aqui mesmo, uma vez que, por lei (e, realçando bem, mais de uma vez: por lei), a pessoa não pode ocupar o terminal por mais de cinco minutos. Ainda bem que naquele instante o indivíduo enrolado, coincidentemente, saía de lá e a fila voltou a fluir normalmente. Como advogado, lembrei-me, obviamente, da advertência de Apeles ao sapateiro, mas fiquei calado.

 

 Passado o episódio, fiquei pensando na convicção do interlocutor sobre a lei dos cinco minutos e nas tantas leis assim que o leigo simploriamente cria e diz, com laivos de sabedoria, que existem e, por isso ou por aquilo, estão sendo absurdamente descumpridas. Ih, já vi muito isso! E o mais interessante é que, não muito raramente, o interlocutor está tão empolgado, tão convicto, mas tão convicto, que a gente fica até sem jeito de corrigi-lo e restabelecer a verdade. Que siga com as leis e modas dele (quando a coisa é inofensiva, claro).

 

A Bíblia diz: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu” (Ec 3.1). E o versículo 7 diz que há “tempo de estar calado, e tempo de falar”. Penso que é bom calar, por exemplo, quando se desconhece o assunto ou, ainda, quando a discussão descamba para o lado da insensatez, salvo, no segundo caso, se houver a obrigação de refutar.

 

A Bíblia, aliás, muito ensina sobre responder. Vale citar aqui, por exemplo: “Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” (Pv 18.13). E ainda: “Como beijo nos lábios é a resposta com palavras retas” (Pv 24.26). Muitos gostam de responder antes de ouvir ou de responder erradamente, porque não têm as palavras certas! Nem sabem do que se trata, mas já vão respondendo (e até ensinando). E, por isso, erram. Não suporto os insensatos: são sempre soberbos.

 

Às vezes, a melhor resposta é o silêncio. Conta-se que, certa vez, um discípulo perguntou ao mestre: “Mestre, qual o segredo para a felicidade?” E o mestre, de pronto, respondeu: “Não discutir com idiotas.” Aí, o discípulo, da baixeza de sua insensatez, retrucou: “Mestre, eu acho que não é isso, não.” E o mestre, como era de se esperar, sábia e contundentemente, encerrou: “Você tem razão.”