LILICO E O VELÓRIO

 

     É muito comum, numa cidade pequena ou em um bairro de uma cidade de porte médio ou grande, depararmos com aquela figura marcante, muito conhecida e badalada pelas suas estrepolias recheadas de lendas que até o folclórico personagem desconhece.

     Na cidade de Bacabal, no estado do Maranhão, existiu a figura carimbada do Lilico, batizado, como a maioria das crianças maranhenses, com o nome de José Ribarmar, os conterrâneos Zeca Baleiro e Sarney que o digam. O apelido Lilico veio da sua semelhança com o humorista que se apresentava com um bumbo, usando o bordão: "É bonito isso!".

     Lilico sempre foi boa praça, ótimo amigo, bon vivant, bonachão, risonho, piadista. Para ele não havia tempo ruim, mesmo desprovido de  dinheiro, crise financeira não existia, sobrevivia de eventuais bicos como eletricista e dos trocados providos pelo pai. Alcoólatra inveterado desde os 16 anos, Lilico vivia o hoje sem a mínima preocupação com o dia de amanhã, sujeito pacífico e querido por todos pelas suas tiradas geniais.

     Assíduo frequentador de velórios e casamentos em busca de destilados, Lilico nem precisava conhecer os noivos ou os parentes do falecido. Seu sentimento estava focado mesmo era nas bebidas oferecidas nas celebrações fúnebres e matrimoniais. Cheio de cinismo e na maior cara de pau, entrava beijando os noivos ou chorando copiosamente junto ao caixão do morto.

     Ainda hoje se mantém o hábito no Nordeste brasileiro de velar o ente querido na sala de estar de sua casa para que os parentes e amigos visitem e rezem pelo falecido antes do sepultamento do corpo. Certa noite, o farejador de bebidas Lilico, já bastante alcoolizado, confundiu o velório do guarda Ambrósio com uma festinha de aniversário e descaradamente, sem conhecer absolutamente ninguém, adentrou a sala, todo sorridente e com aquele ar de felicidade, num fôlego só assoprou as velas em volta do caixão e, batendo palmas entusiasmado, começou a cantar os parabéns para você. Depois da gafe cometida, o penetra deixou o recinto furtivamente e os boquiabertos visitantes ficaram sem entender nada. Velório que seguiu!.

 

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)

Benedito Morais de Carvalho (benê)
Enviado por Benedito Morais de Carvalho (benê) em 28/05/2024
Reeditado em 28/05/2024
Código do texto: T8073425
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