APRECIANDO A NATUREZA PROSSEGUE...
Nas duas últimas décadas, tive o privilégio de residir em casa com terreno em área onde prevalece o verde e também se convive muito próximo do que seria a vida silvestre numa metrópole.
Em Santa Teresa, nossa área verde particular contava com dois mil metros quadrados integralmente plantados com árvores frutíferas. Como isso passou a ser raridade em núcleos urbanos, muitos pássaros resolveram transformar o local em moradia, davam até uns voozinhos só para exercitar, mas logo voltavam para casa.
Primeiro vieram aves menores, mas devido à fartura, aves maiores também descobriram essa boca livre de produtos orgânicos e naturais, logo um casal de tucanos lá se estabeleceu.
Micos e esquilos vieram se juntar ao grupo de adoradores de árvores. Em retribuição a fartura de alimentos, despertávamos com suas empolgadas cantorias, que só retornariam ao final das tardes, mas apenas no verão chegávamos a tempo de assistir ao espetacular coro vespertino.
No chão, Neco meu cachorro, era donatário absoluto do pedaço, e se deliciava quando algum pássaro deixava algum fruto cair. Sua fruta predileta era o abacate, e no terreno dois pés municiavam seu apetite, na época que ficavam maduros, seu ouvido e faro apurados rapidamente encontravam a iguaria em meio à vegetação.
Com a mudança para Laranjeiras, reduziu-se a área verde, em compensação ficamos mais próximo a floresta da Tijuca e da visita de sua diversificada fauna.
Agora, opções de frutas ficaram mais restrita, em compensação, novas espécimes passaram a se aproximar da casa, seguindo uma hierarquia, onde prevalece o respeito aos macacos prego. Em seguida, gaviões podem se fartar do coquinho de dendê a iguaria mais requisitada por estes ilustres invasores. Micos e maritacas se entendem na hora das refeições, e são mais ecléticos na alimentação, comendo também goiabas, carambolas e até jaca com apurada destreza.
Quem não tolera esses invasores aéreos é minha cadela viralabra, a Bela, que sonha em ter asas para assim poder expulsar esses invasores, que para sua frustração não se assustam com seus latidos de protesto.
Não pense que morar nas franjas de uma floresta traga só vantagens, esses mesmos macacos que sobem no dendezeiro, também têm habilidade para entrar em casa, e literalmente fazer uma farra.
Já tivemos a visita em câmara lenta de um bem nutrido tamanduá bandeira, que resolveu conhecer a área urbana e nem sei como entrou em casa, já o vi passeando pela varanda, depois desceu as escadas e então fiz a gentileza de abrir o portão para que conhecesse a rua, ainda bem que nessa época ainda não existia a Bela. Não sei o que teria acontecido do embate entre ambos.
Tocando na Bela, ela depois de duas brigas com ouriços do mato, foi parar na veterinária precisou ser anestesiada para a retirada daqueles enormes espinhos amarelos de seu focinho, boca e língua. Resumo da ópera, ao anoitecer ela precisa ser recolhida para dentro de casa, e assim evitar futuras brigas, mas também poupar gambás de seus furtivos e fatais ataques.
E assim, de forma privilegiada, fico apreciando esse espetáculo proporcionado pela rica diversidade que nos cerca, em pleno tecido urbano da cidade do Rio de Janeiro.