A Jornada do Maquinista na Viagem da Vida

Não tenho misticismos, não tenho ídolos ou ideal de paraísos, nenhum tostão furado ou plano de vida pós-morte. Estou fincado na terra do mundo concreto, ator teimoso no palco temporário que é existir. Olhando no espelho da angústia e com o crânio oxigenado apesar de dissabores.

No vagão da existência sinto-me estrangeiro, maquinista perante um intenso caos. Mas a vida, em todos os percalços, flui. Diante das perdas, dos desvios, dos traumas, há sempre a possibilidade de imprimir sentido ao trem com destino à morte.

Desgostos, traições, violência, mentiras são trilhos inexatos que não me impedem de assumir o leme ferroviário e decidir a direção. Não importa quão sofríveis são os rumos, o arrepiar dos olhos na aventura desafia-me a oferecer luzes para a viagem escura e tempestuosa.

Sempre restarão fortes vestígios de neblina, estações não programadas, mas é o inesperado que abre janelas para a liberdade, a transcendência da trajetória. E admirando as surpresas da viagem, sem certezas de dias doces, prosseguir é preciso, é vital! Sou o maquinista que, no grilhão da adversidade, cria novas habilidades – um eterno aprendiz.

Trem vai e vem, trem vem e vai, trilhos com espinhos, muitas máculas. Atento ao meu desejo, vou guardando na memória afetos e sensibilidades singulares. Nos balanços e tédios da locomotiva, vou contemplando as paisagens. É com alteridade que vou atribuindo meus próprios significados e gozando de pequenos prazeres no curto itinerário. Em todo carril ou parada experimentada, luto por troféus, mesmo diante dos monótonos caminhos.

27.05.2024

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 27/05/2024
Código do texto: T8072711
Classificação de conteúdo: seguro