FLAGELADO

Eram grossos os pingos da chuva forte que batia na lona que cobria o barraco junto a rodovia, para onde José foi refugiar-se, fugindo da enchente que arrasou o casebre em que morava, na vila dos Tocos.

No arroio próximo, que agora parecia um mar, via boiar seu velho fogão; a cabeceira da cama; pernas de cadeiras e uma soma de utensílios que juntos iriam formar os entulhos a ocuparem as beiradas de estradas e ruas, quando do recuo das aguas.

Com um sorriso José agradece a marmita e a água que o voluntario lhe alcança. Olha a rua, nota que a chuva diminui um pouco e vencendo a impotência, sai da barraca e junta-se a multidão de anônimos, muitos dos quais mesmo após perderem seus bens, mantém vivo o sentimento de generosidade e arregaçando as mangas partem na ajuda de seus irmãos flagelados.

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 26/05/2024
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