FRIA CHUVA DE OUTONO
(Pequenas crônicas do cotidiano)
Tarde de domingo, 26 de maio/24.
Chuva e frio.
Uma destas chuvinhas mansas , benzendo telhados, fria e persistente.
Da janela da cozinha eu espio a paisagem cinzenta, as plantas e flores molhadas pelo quintal.
Uma pombinha, desolada, espreita a geografia da rua Espírito Santo, pousada nos fios da rede elétrica.
Um pouco abaixo dela, os fios da pouca comunicação entre os homens.
Reflito na solidão humana, no afastamento, na " economia" de diálogos, enfim..
Uma espécie de goteira bem ao final da calha, provoca um "toc... toc..." cadenciado que remete-me às tardes chuvosas na casa de minha infância.
O cheiro de mofo e os picumãs no sótão, livros, revistas e fotos antigas ( de gente que nem conheci) folheadas próximo à janela que dava para a rua do Fomento.
Ninguém pela rua !
A visão do potreiro , com azevéns umedecidos e pisados pelas patas dos animais.
A biquinha de água escorrendo pelas laterais da estrada e a casa de tia Lucinda com janelas cerradas e caracóis de fumaça vazantes da chaminé.
"Toc..toc..." Prossegue a goteira na calha e me traz lembranças de alguns amigos que a tanto tempo não os vejo.
Habita entre as paredes , neste momento, o silêncio acinzentado de dias chuvosos.
No rádio,uma antiga canção.
Destas canções que embalavam nossos sonhos de juventude em domingos ensolarados nos bordejos pelas ruas do meu bairro.
Um ligeiro travo de saudade e a consciência de que o tempo passou.
Dormem os demais nesta casa e um bolo de laranja, me espreita.
Vou tomar um café !
Lá fora a canção da chuva prossegue:
"Toc...toc..."
CLIC no link abaixo:
https://youtu.be/j3FsgJcdpB4?si=BswBvZJBrpWDQStC