O homem de princípios.
Abordou-me à fila do banco um homem, que me disse:
- Sou um homem que honra seus princípios. O Agro é fascista, eu sei; então, nego-me a comprar o que o Agro produz. Não vou dar lucro ao Agro fascista, certo?! Semeio, cultivo e colho a minha comida. Os capitalistas exploram o trabalhador, deixam-los na pindura, comendo o pão-que-o-diabo-amassou, enquanto amealham fortuna faraônica e refestelam-se em banquetes fradescos. Eu, que sei que os capitalistas não prestam, e eu não lhes quero enriquecer, lhes não compro o que eles produzem, assim eu não os enriqueço. Defendo a liberdade: que cada pessoa faça o que lhe der na telha. Não mexo uma palha para dizer para quem quer que seja no que ele tem de acreditar e o que ele tem de fazer da própria vida. Sou a favor da igualdade de renda; para acabar com a desigualdade, distribuo a minha renda às pessoas mais pobres do que eu. Ora, se acredito que ninguém pode ter mais grana do que ninguém, então eu não posso ter mais grana do que ninguém, então separo para mim apenas o de que preciso para comprar o arroz-e-feijão de todo dia, conservar um teto sobre a minha cabeça e manter-me embrulhado em vestes que me protegem das intempéries, e só. Não espero o governo distribuir a minha riqueza aos mais pobres; a iniciativa de distribuir-lhas tem de ser minha. Ora, eu tenho de praticar o que prego, não é verdade?!