Impunidade Criminosa

Impunidade Criminosa(1)

O crime de Mariana, cometido pela Samarco, completa nesta data 5 anos. Uma data que muitos devem estar comemorando, ao menos aqueles que se aproveitam da impunidade criminosa que os beneficia.

Desde que comecei esta "trilha" ( NÃO FOI ACIDENTE - O Crime do Século ) em 26 de fevereiro de 2016 a minha indignação não para de crescer. Queria, principalmente, manter viva a ideia de que não foi acidente e a impunidade criminosa não podia vencer pela omissão. Como se não bastasse, a perspectiva de um esquecimento geral e diversionismo, que reinam no país, é assustadora.

Escrevi ao menos um texto, todos os meses desde o dia 3 abril, sobre o tema e o crime contra pessoas e o meio ambiente. Conforme fui avançando, percebi que as pessoas esqueceram-se, menosprezaram e, de certa forma, eu negligenciei e não publiquei a maioria.

TRISTE COMEMORAÇÃO

Desse modo adotei o dia 5 de cada mês como referência para as publicações relacionadas ao crime de Mariana. Adicionalmente, tenho mais de uma centena que posso publicar com apenas meia hora de revisão. Dentre as quatro dezenas de textos online, quase a metade já sofreu revisão sob diversos aspectos - a maioria por questões de edição do texto. Uma destas revisões merece destaque: Sofri assédio de uma agência de fotografia. A tentativa de achaque era para me "cobrar" valores que eu nunca pagaria por uma foto, por melhor que fosse, do crime. Com toda a certeza, existem muitas imagens que podem ilustrar o crime que a Samarco, a Vale e a BHP perpetraram.

Nesta edição de "5 anos de Impunidade Criminosa", comecei a escrever um "especial", que imaginei que teria muita repercussão. Entretanto, resolvi suspender e escrever nesta data sobre outro assunto que surgiu na semana passada. A edição "grande", dos cinco anos, vai ficar "no prelo", quem sabe no aniversário de dez anos de impunidade do crime.

DIVIDENDOS

Uma matéria no meu "radar" de temas que acompanho para o Blog me chamou a atenção e, desse modo, me fez mudar o foco. Refere-se ao lucro que a empresa Vale(2) teve, e pode resumir a ópera-bufa tragicômica desta tragédia real e desumana.

Anteriormente, no bojo do crime de Brumadinho, escrevi o quão seria prejudicial para as vítimas do crime de Mariana a mudança de foco. Inegavelmente, o segundo crime foi maior em relação ao número de vítimas fatais e, provavelmente, pelo crime ambiental. Certamente, em ambos os casos, o que fica público e notório é a impunidade criminosa que impera no país.

Desse modo, é assustador que a nossa sociedade aceite que a VALE atue como vem atuando, no Brasil e no exterior. Ao mesmo tempo que anuncia um lucro de US$2,9 BI num único trimestre, com elevadíssima alta em relação a 2019, indeniza alguns poucos. Como se não bastasse, dividendos para acionistas estão religiosamente em dia. Surpreendentemente, muitos destes acionistas comemoram alta no valor das ações e seus "irmãos" sem receber indenizações e reparos.

MARIANA E BRUMADINHO

A impunidade criminosa se consolidou em Mariana e Brumadinho. No caso do primeiro crime, da Samarco (a Vale e BHP são cúmplices !), criaram uma entidade de nome RENOVA. Esta organização é que deveria indenizar e recuperar toda a destruição que ocorreu após o rompimento da barragem.

No caso de Brumadinho, a Vale trata com a maioria dos atingidos e a extensão parece ser menor do que a protagonizada pela Samarco. Entendo que as situações são diferentes, mas o crime de Mariana teve mais vítimas. Se considerarmos a extensão e importância do Rio Doce, e seus afluentes até a foz, em Regência no Espírito Santo, foi muito mais grave.

5 ANOS

Uma vez que vemos o escárnio do Judiciário com questões de direitos básicos e até de humanidade, a luta deve ser contínua. Nestes tempos difíceis, que pioram muito com a pandemia global, não temos a mínima esperança na resolução deste caso.

Até entendo que famílias e pessoas façam suas orações, agradeçam a qualquer ajuda e tenham reconhecidas algumas de suas necessidades.

Tentei ajudar de várias formas, na maioria das oportunidades com ações mínimas e pontuais. Por outro lado, apresentei um projeto para a RENOVA que caiu no estamento burocrático servil da instituição.

A esperança é que as vítimas deste nosso grande estado das MINAS GERAIS não sofram e recebam as recompensas de maneira honesta e justa. Contudo, quando presenciamos a impunidade criminosa avançar, nosso temor é que tudo fique como está, durante muito tempo.

Vou seguindo na proposta de continuar a cada dia 5 publicando textos alusivos ao tema de Mariana e vítimas da Samarco.

ALENTO OU DESALENTO

Este dia é, sem dúvida, um pequeno lembrete sombrio da fragilidade da vida e da necessidade de protegermos nosso meio ambiente. No entanto, também é uma oportunidade para refletirmos sobre a resiliência e a força das comunidades afetadas. Apesar da magnitude da tragédia, as pessoas de Mariana(MG) até Regência(ES) mostram uma incrível capacidade de recuperação. As vítimas e as pessoas que se identificam com elas são as que mais ajudam, ao contrário daqueles que se locupletam de bônus das empresas.

Nos cinco anos desde o desastre, os esforços são para reconstruir as comunidades e restaurar o meio ambiente. Embora o progresso seja lento e ainda haja muito trabalho por fazer, há sinais de esperança, poucos, é verdade. A fauna e a flora podem se recuperar em algumas áreas mais rapidamente do que em outras, e as comunidades arrastam-se pela reconstrução.

5 DE NOVEMBRO

Enfim, neste dia, lembramos aqueles que perderam suas vidas e aqueles que foram vítimas de um crime desproporcional. Mas também celebramos a força e a resiliência das pessoas e da natureza. A recuperação é um processo longo e difícil, mas a determinação e a resiliência das comunidades são uma fonte de inspiração.

A data de 5 de novembro é um lembrete de que devemos fazer tudo ao nosso alcance para prevenir tais desastres no futuro. A questão é que estamos abusando dos maus tratos ao meio ambiente e, certamente, acontecerão outras tragédias. A dúvida é somente quando e onde teremos novos crimes, omissões e ausência de políticas públicas.

Precisamos aprender com os erros do passado e garantir que a segurança e a proteção do meio ambiente sejam sempre uma prioridade.

Em meio à tristeza e à devastação, há espaço para a esperança. A esperança de que, através dos esforços de recuperação e da força da comunidade, possamos encontrar um caminho para um futuro melhor. Um futuro onde desastres como o de Mariana sejam uma coisa do passado. E, acima de tudo, um futuro onde todas as vidas e o meio ambiente tenham alguma valorização e proteção.

ADENDO

Hoje, quando se completam cinco anos da tragédia, nós do LEIA.ORG abrimos espaço para as atingidas e os atingidos possam dar a real versão da situação de reparação que deveria ter sido feita nesse período.

Manifesto no link  do blog LEIA.ORG ( em http://blog.leia.org.br/mariana-cinco-anos-de-reparacao-ou-propaganda ).

P. S.

(1) "Impunidade Criminosa - 5 anos - Não foi acidente" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2020/11/05/impunidade-criminosa-5-anos-nao-foi-acidente/

(2) "Vale lucra bilhões em um trimestre enquanto Brumadinho e Mariana seguem sem justiça"