VISITANTE ILUSTRE.
Na crônica de hoje vou falar de um personagem nada convencional, esse indivíduo me fez uma visita inusitada, aparecendo de surpresa. Sem mais delongas, vou lhes contar como tudo aconteceu, no entanto, não posso deixar de falar sobre os muitos nomes desse visitante. Os Baianos talvez o conheça por 'mucura', os Amazonenses conhecem por 'timbu' na Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, 'cassaco', no Ceará, Alagoas e agreste Pernambucano, 'micurê', no Mato grosso, 'taibu', 'tacaca' entre tantos outros nomes. Esse camarada é muito conhecido pela audácia e perspicácia na arte de surrupiar ovos de galinha. É um mamífero por gênero e nome científico de ( Didelphis Marsupialis) popularmente chamado de ( gambá ). É isso mesmo, caríssimos leitores, eis que um gambá veio me visitar essa semana.
Na ocasião da visita, eu estava fora, quando cheguei na casa da minha mãe, onde fico durante a semana devido ao trabalho, lá estava ele, desfilando à beira do telhado da garagem, metade do corpo para fora, o rabo longo e esquisito a lançar, indiferente aos observadores. A parede da garagem é alta, dando direto na parte interna do corredor, cair seria fatal para o bicho. Não sei se ele estava tentando se equilibrar para descer ou fazendo graça para o seu público. Repentinamente ele se virou, o focinho parecido com um rato gigante, olhos miúdos a me encarar.
Fiquei observando o bicho, estacionou naquela posição, tentei espantá-lo fazendo barulho, de nada adiantou. Tive então a ideia de jogar água nele com a mangueira do quintal, quem sabe assim ele poderia se evadir do telhado. Posicionado a mangueira, tome água... Terrível ideia, de nada adiantou, o bicho fez apenas se encolher no cantinho entre o beiral de dentro e a telha da garagem, o odor nada agradável pelo quintal. O meu pai que também acompanhava a cena disse que por eu ter jogado água é que ele não ia sair mesmo, por estar com frio ficaria ali a noite inteira. Imaginei que talvez fosse uma gambá fêmea, e de repente estivesse com filhotes próximos, qualquer coisa assim. Fiquei um tempo parado, observando o visitante sem saber o que fazer, era um final de tarde, o sol aos poucos foi se escondendo, a noite veio abraçar o dia, e nada do meu amigo ir embora. Olhei-o pela última vez, por fim, minha desistência de expulsá-lo. "Se quer ficar por aí, tudo bem, mas, amanhã de manhã, por favor, vá embora", eu disse como se ele fosse entender alguma coisa. Saindo dali, continuei os meus afazeres, tomei banho, jantei, assisti qualquer coisa na TV, vez e outra eu ia conferir com uma lanterna se o camarada estava lá. Os olhos brilhantes ao reflexo da luz, ele ainda encolhido.
Eu fui dormir preocupado, pensando, "e se esse camarada entra na garagem e se enfia debaixo do carro". Pois uma das primeiras coisas que fiz no dia seguinte foi conferir. Olhei no telhado, nada, "acho que ele entendeu o meu recado", disse em voz alta, de repente, veio a absurda ideia, "vai que ele se enfiou debaixo do carro", olhei tudo, cada canto, nada. Enfim, obediente, ele foi embora, talvez aventurar-se em outros telhados por aí.