🔵 Rosmitter, o boêmio
A Vila Madalena era um bairro histórico e boêmio. No fim dos anos 60, muitos estudantes da USP começaram a moral lá. Assim, o lugar começou a ganhar características contraculturais, alternativas e boêmias. Durante algum tempo, a região caiu no ostracismo, contudo, nos anos 90, o que já foi um bairro residencial ressurgiu como um endereço “obrigatório” para quem procurava um portfólio de barzinhos.
O objetivo era bem capiau: conhecer a mítica Vila Madalena noturna. Surgiu um sujeito que parecia alguém que desceu de um apartamento sobre o boteco. O arquétipo do baluarte daquele bairro antigo só podia ter enxergado um grupo composto por 4 turistas com o potencial de mantê-lo embriagado na faixa (de graça), portanto, 4 vítimas.
Ele apareceu com um copinho americano vazio, e nos fisgou com um papinho sobre música. Hoje, desconfio que foi o Henrique que “deu bandeira”, com seu cabelo comprido. O visual roqueiro “guitarrista de penhasco” atraiu o sósia de Arrigo Barnabé, o músico maldito. Pelo menos, o alcoólatra sem dinheiro não era um “Tom Chupim” (quem surge segurando um violão). Mas não tinha mais volta.
Aquilo só poderia ser mentira, ele se identificou como Mitter. O inédito nome alemão tornava aquela figura europeia incompatível com alguém que “obrigou” 4 jovens a sustentar o alcoolismo daquele sanguessuga da terceira idade.
Tivemos que abastecer o copo do Mitter em troca de um punhado de mentiras. O Mitter deve ter acreditado que era um ótimo papo, pois logo nos interrompia com suas lorotas. Ele dava asas a sua imaginação com aventuras envolvendo Cazuza, Renato Russo e Lô Borges. A quantidade de disparates apenas era interrompida para esvaziar o nosso vasilhame. Assistíamos àquelas cenas quase que às lágrimas.
Como piada interna, aquele chato de plantão recebeu o apelido, não sei o porquê, de Rosmitter. Então, a partir daí, todo estranho que tentava se infiltrar na nossa turma de amigos ganhava a alcunha de “Rosmitter”.
Mitter não era o Arrigo Barnabé, nem músico, mas era maldito.