'DEUSIDÊNCIAS' - A ORQUESTRA DIVINA DA COINCIDÊNCIA
Às vezes, a vida mergulha em profundidades inexploradas dentro de mim, revelando a essência da existência: o simples ato de estar presente, de sentir e compreender plenamente tudo isso. É nesse momento que começo a contemplar a vida e suas complexidades em cada acontecimento. Sempre mantive a convicção de que nada neste universo ocorre por acaso. Absolutamente nada. Não sei se chamar isso de misticismo ou fé no destino, mas não é o destino que nos conduz aos desafios. Acredito piamente na inclinação do destino para as coisas boas – aquelas surpresas que surgem em nosso dia a dia e transformam completamente nossa jornada. As pessoas e situações que cruzam nosso caminho, e que estão destinadas a isso.
Todos os dias, exerço minha capacidade de observação, encontrando beleza nas pequenas coisas da rotina: o vizinho saindo para sua caminhada matinal, o carteiro entregando correspondências, o caminhão do lixo passando, a mãe hindu levando seu filho ao ponto de ônibus, o pai dedicado passeando com sua filha deficiente, e até mesmo as sementes do jardim brotando, simbolizando a continuidade da vida. Do outro lado do lago, um japonês medita enquanto o sol nasce. Lynn, a velhinha corajosa, enfrenta o sol com passos firmes para buscar sua correspondência - admiro sua independência! Essa rotina me traz conforto, pois proporciona uma sensação de previsibilidade, como se nada de ruim pudesse acontecer, protegendo-me da incerteza e do desconhecido.
A vida passa rapidamente, e num piscar de olhos, já é segunda-feira. Piscamos novamente e é fim de semana. Li uma vez que como as situações são cíclicas, deveriamos aceitá-las com a simplicidade de uma criança. Ah! se todos pudéssemos agir com essa inocência, transparência e fé! Viver cada momento com paixão, pois tudo é passageiro. A única coisa que não é efêmera é o que eternizamos em nossos corações - quadros imaginários decorando os cantos da nossa alma.
A vida é efêmera, sim, mas é essa brevidade que nos impulsiona a saboreá-la intensamente. Como uma refeição deliciosa que termina rápido demais, mas cujo sabor perdura na memória, cada momento vivido com intensidade e atenção se torna eterno dentro de nós.
Outro dia, assistindo a uma missa de setimo dia, o padre disse que as coincidências muitas vezes podem ser chamadas de "Deusidências". São essas "Deusidências" que nos recordam que a vida - por mais breve que seja - é repleta de beleza e significado.
Minha filha - uma "Deusidência"
"Todos os dias quando acordo vou correndo tirar a poeira da palavra AMOR"
(Clarice Lispector)