CRISTOFASCISMO: QUANDO A RELIGIÃO SE TORNA FERRAMENTA DE CONTROLE SOCIAL

Agosto de 2021

Nos anos 1970, Dorothee Sölle cunhou o termo "cristofascismo" para descrever a ligação entre o nazismo e as igrejas na Alemanha. Em 2020, Fábio Py trouxe de volta essa expressão com seu livro "Pandemia cristofascista", destacando a aliança entre igrejas e apoiadores de Bolsonaro no Brasil visando estabelecer um governo autoritário com inclinações neofascistas e ultraliberais.

Py aponta semelhanças entre Bolsonaro e Hitler:

O uso da linguagem cristã, participação em eventos religiosos e conversões ao cristianismo para consolidar o poder.

O cristofascismo bolsonarista se baseia em uma teologia política autoritária, explorando o clima apocalíptico da pandemia para incitar o ódio à diversidade democrática e justificar políticas discriminatórias, incluindo a negligência em relação à crise do coronavírus. Bolsonaro é retratado como um líder secular messiânico, aproveitando essa imagem para implementar medidas ultraliberais que prejudicam os mais vulneráveis. A associação do governo de Bolsonaro com o cristianismo durante a pandemia intensifica a polarização religiosa e política, alimentando uma narrativa de confronto entre o bem e o mal, onde o presidente se apresenta como o líder dos cristãos contra supostos inimigos como comunistas, humanistas e petistas.

Desarmar o bolsonarismo pode ser mais desafiador do que simplesmente derrotar Bolsonaro nas próximas eleições, como sugerido em uma entrevista. Apesar das características racistas, homofóbicas, misóginas e insensíveis às mortes pela pandemia, Bolsonaro conseguiu, de certa forma, associar sua imagem à de Jesus Cristo para parte da população. Isso levanta questionamentos sobre a interpretação de Jesus no Novo Testamento e sua conexão com a tradicional prática pacifista atribuída a ele. O cristianismo, sendo um pilar da civilização ocidental, também tem aspectos violentos em suas práticas internas, o que pode influenciar a percepção e ações de líderes políticos como Bolsonaro.

Desde 2016, estrategicamente, Bolsonaro tem buscado se aproximar de grupos religiosos, especialmente católicos e evangélicos, por meio de conversões públicas e participação em eventos religiosos, mesmo que suas atitudes contradigam valores cristãos como a luta contra a homofobia e a discriminação. A ascensão dos evangélicos na política brasileira não é recente, mas ganhou força a partir de 1986, culminando na formação da Frente Parlamentar Evangélica na década de 2010.

O PT e outras esquerdas tradicionais contribuíram indiretamente para o fortalecimento desse grupo, mas houve um rompimento devido a questões como a ideologia de gênero e a percepção de afastamento do governo de Dilma Rousseff em relação às pautas conservadoras evangélicas. Esse contexto histórico ajuda a entender o surgimento do "cristofascismo" no Brasil e no mundo, onde a religião é usada como instrumento de controle social. No Brasil, fatores como a ativa participação dos evangélicos na política, a busca por representatividade e a relação pragmática de certas instituições religiosas com o poder político são elementos que influenciam esse fenômeno.

Jeferson Santos Albrecht
Enviado por Jeferson Santos Albrecht em 24/05/2024
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