Caminhoneiro da Nação
A estrada parecia infinita, uma serpente de asfalto cortando montanhas e vales, Seu João, homem de poucas palavras e muitos quilômetros rodados, carregava muitas histórias .
Já havia sido vaqueiro no sertão, jangadeiro no litoral, soldado em tempos difíceis. Cada ocupação deixaram marcas, adaptando-se às mudanças, mas sempre mantendo o riso franco e o peito aberto.
Naquele dia específico, a estrada parecia mais longa, talvez porque sua mente viajasse por caminhos ainda mais distantes. Lembrava-se de quando soltou o cavalo pela última vez, de quando deixou a plantação para trás, buscando uma vida que se desenhava mais livre, mas nunca menos trabalhosa. O caminhão era agora sua casa, seu companheiro, seu confidente.
As paisagens iam mudando de forma e cor, de campos verdes a sertões áridos, de cidades movimentadas a vilarejos silenciosos.
Gostava de observar as pessoas à beira da estrada, cada uma com sua história, suas lutas, seus sonhos.
Durante as paradas, nas conversas rápidas com outros caminhoneiros, compartilhava causos e risos. Havia um respeito silencioso , entre aqueles que viviam na estrada.
Nas horas solitárias, Seu João encontrava sua verdadeira companhia: a música.
Sua viola, companheira de tantas noites, ressoava canções que falavam de saudade, de esperança, de amor.
Ele não cantava por dinheiro.
Cantava para espantar a solidão, para celebrar a vida, para dar voz aos sentimentos que guardava no coração.
E, assim, ele seguia, estrada afora, mês após mês, rodando de norte a sul, de leste a oeste, conhecendo cada recanto do país.
Naquela tarde de maio, enquanto o sol se punha no horizonte, ele pensou em quantos lugares deixara um pedaço de si. Sentiu-se parte de um todo, um caminhoneiro da nação, carregando não só cargas, mas histórias, sonhos e esperanças. E, com um sorriso no rosto, apertou o acelerador, sabendo que, onde quer que a estrada o levasse, ele estaria sempre em casa.