Respeito à água, respeito ao Guaíba
 

          Quando pensam em mudar o nosso habitat para fora da Terra, não se chega à conclusão de que melhor será preservar a certeza da usada morada, porque os planetas de que sabemos, sobretudo dos exoplanetas fora do nosso sistema solar, não negam a hipótese de inabitáveis: além de distantes a anos-luz, demonstram inexistência de água naqueles chãos inóspitos. A condicional é corroborada: “Se não há água, logo não há vida”. E seria vida para existir... Ora, sai da água toda a Natureza que floresce e ressurge.  
          Quando chove muito, sempre me lembro dos versos lamuriosos na canção Súplica Cearense sobre esse assunto: pouca água, água demais. Nada mais poético, com sentimento e beleza, do que o sofrido lavrador, no meio de tanta seca, rogar a Deus “chuva sem parar”. Atendido o pedido, caem chuvas em demasia e volumosas enchentes, inspirando o melhor verso, pedindo ao Senhor para parar de chover, que Ele desculpasse o pobre coitado, que não sabia fazer oração. Não me resta dúvida de que o maltrato à Natureza se reduz aos cortes das árvores; aos gases dos escapes; aos lixos embrulhados em plástico ou desembrulhados ao vento, o que gira como prece, ao surgimento de doenças e pestes, de desastres, como esse com as águas do Guaíba.
         O Guaíba é como qualquer outro d´água corrente, que, saindo das suas fontes, desce serras e corre planícies, para se entregar ao Mar. Maravilham-se a Natureza e a água, e como é bom construir nossas casas na praia ou às margens desses rios, tornando-se ruas e cidades; haja pontes para alcançar a outra margem. Mas, como se estivesse irritado, o rio destrói pontes e passarelas; invade a cidade de quem vem importunando-o ou de quem não reclama essas importunações. Muita gente desconhecia a irascibilidade do Guaíba; que é, como a água, um simples rio...
          Antes de invadir, eles alertam e não lemos tais avisos. O Paraíba é um rio como o Guaíba. Durante tempos de menino, meu pai Inácio advertia, mostrando-me o perigo das enchentes e o cinturão de couro... Mas, por duas vezes, vi o Paraíba passar sobre a ponte, inundando espaços ribeirinhos, como se fosse águas raivosas sem ondas, enchendo casas, sem barulho, sem alarde, até as caladas da noite, subindo as paredes como fora a praga ao Faraó do Egito.
          É preciso uma oração forte e bem feita para que os humanos tratem a Natureza como os bichos o fazem. Atualmente, o rio Sena está sendo lavado das impurezas, dos lixos e do esgoto para as Olimpíadas de 2024 em Paris,que , na Grécia, iniciou-se como festa sadia que requer ar, terra e água sãs. O dia a dia, por aqui ou no Sul, também exige sempre uma boa convivência com matas e águas que se conjuguem com o mar e com as nuvens. Contradizendo esse caminho, por aqui, há aqueles que constroem riachos de esgotos ao mar. Tardiamente, o poder público está começando a exigir o desvio desses esgotos, de lixos e excrementos.
          O Guaíba encheu os noticiários do país e nossos ouvidos, como se fosse uma rogação. Pediu-se clemência. Aos poucos, noticia-se volta ao normal. Espera-se que a normalidade seja também a de lutar pelo respeito à água, pelo respeito ao Guaíba...