MALUCO NÃO, SÁBIO

Garoto estudioso apegado a livros, revistas, à busca pelo saber e até a bulas de remédio quando nada mais havia para ler, era taxado de maluco por alguns, muitos diziam que eu terminaria louco de pedra se continuasse lendo tanto. Essa era a mentalidade tacanha e mentecapta de vizinhos, amigos e inclusive de familiares, eles achavam ser suficiente apenas aprender o básico da matemática como as quatro operações e somente ter condições de ler e saber assinar o nome bastava. E citavam exemplos não sei se imaginados ou inventados de pessoas piradas por culpa dos livros.

Devido minha idade incipiente, óbvio, batia um certo medo de que isso seria realmente verdade, mas cada vez que eu lia mais e mais me sentia bem comigo mesmo e com o conhecimento, a alegria de aprender e descobrir novas possibilidades, novos sonhos, novos horizontes me deslumbrava. Por essa razão, decididamente dedicar-me ao aprendizado e à abertura de portas inimagináveis somente percebidas por intermédio de boas obras me confortava, enchia meu coração de esperança num futuro mais promissor do que aquele que eu via dos meus pais. Não, sem nenhum pestanejar, sem qualquer sombra de dúvidas viver as agruras deles não fazia parte dos meus planos. Eu almejava voar mais alto, ver espaços virgens e caminhar por estradas diferentes, anelava abundância de vida nunca sua singularidade. Sobretudo, através do mérito, galgar outros degraus superiores. E sabia que somente através do estudo dedicado conseguiria esse objetivo.

Com o intuito de alcançar essa meta eu estudava, lia e escrevia escondido enquanto meus irmãos traquinagem. Quando era flagrado abraçado à leitura faziam piada comigo, me mandavam brincar, gritavam o apodo de maluco na tentativa de intimidar e, talvez, também humilhar. Mal sabiam todos o quanto estavam errados agindo assim. Muitos deles atualmente são pessoas medíocres, acabadas na bebida, infelizes. Quanto a mim, graças a Deus sou feliz, os livros por demais contribuíram e permanecem comigo trazendo alegria, conhecimento, descobertas e o fluir de novos sonhos. Ler, aprender e escrever não me tornaram louco, pelo contrário, me fizeram mais sábio.