São Jerônimo e Santa Bárbara!
Quando eu era criança, morava em uma casa pequena. Era meu universo, era – sem que eu soubesse – toda minha poesia e meu lirismo. Descrevo a fachada dela, para que imaginem... Havia uma janela de madeira, uma varanda, e o telhado era em v. À frente, um pequeno jardim enfeitava nossas vidas. Era assim a simplicidade que meu pai construíra com a ajuda de minha mãe, mulher trabalhadeira, que não esbanjava, se preocupava com os filhos e com o pagamento das contas. Éramos simples! Éramos felizes!
Era raro chover forte... Mas de vez em quando trovoadas e tempestades assustavam a gente. Me lembro de que, certa feita, eu voltava da escola e vi nuvens escuras, velozes e ameaçadoras, prenunciando uma tempestade. Corri o que pude e me aconcheguei protegido pela casa e pelo carinho medroso de minha mãe, que é uma mulher corajosa, mas tremia ante a fúria das intempéries.
Eu tinha estudado na escola o ciclo das águas. É possível mesmo que já tivesse acertado em prova alguma explicação sobre por que chovia. Mas eu – no fervor de quem rezava e cria muito em Deus – achava que as chuvas eram educadas e sabiam certinho a hora em que a missão estava cumprida. Afinal, eu nunca tinha visto uma tragédia provocada pelas águas.
Naquela tarde, porém, a chuva se esqueceu de parar. Temi por minha casa, que era de forro e costumava oferecer uns estalos estranhos nas tempestades. Minha mãe chamou por São Jerônimo e Santa Bárbara, me colocou perto dela e aguardamos o melhor, que não durou muito a vir, com a natureza ficando, de novo, calma, leve...
Saímos para o terreiro e observamos que nada tinha acontecido; apenas víamos que gelo derretido tinha aparentemente poupado nosso telhado, pois a água não se infiltrara pelo forro. Fomos acolhidos por Deus. Ah! Como há mistérios nesta existência!
Depois soube que nas redondezas muitas casas perderam os telhados, o que já teria sido uma lástima para nós... Como certamente foi para a vizinhança... Já pensou? Ter de reconstruir um telhado, tantas vezes construído com longas economias.
Salváramos! A natureza foi obediente e nos poupou... Fico pensando se perdêssemos meus brinquedos, nossas roupas, nossas histórias, nossos bens materiais... À época, não pensei assim. Mas hoje penso. Mas hoje imagino, mais do que imagino. Eu vejo como é triste ficar pobre de repente... Só restar a vida, uma vida despojada de bens necessários, uma vida despedaçada, amargurada.
Eu vejo porque a televisão, o rádio, os vídeos, todos noticiam e replicam, e nos emocionam. É preciso que a natureza reaprenda a conviver conosco, que ela fique sabendo de novo a hora de premiar com suas benesses e a hora de se retrair, de acalmar-se, de virar de novo encanto e poesia. É preciso muito que aprendamos fazer nossa parte, que saibamos preservar e proteger a natureza, para que ela vá se controlando e nos beneficiando com a vida sem permanentes aflições. Eu espero. Eu creio. São Jerônimo e Santa Bárbara!