E O TEMPO VOOU

Hoje ao final da tarde terei uma nova oportunidade de reencontrar amigos de muitas décadas, que passamos juntos boa parte da adolescência e a vida adulta convivendo, ora mais próximos, ora mais distantes, mais sempre sabendo de alguma forma notícias de cada um de nós.

Nesse exercício o filme do nosso tempo passou pela cabeça, e foi tudo muito rápido, barreiras se quebraram, e outras foram erguidas, segundo novos princípios. Novas interferências ajudaram a montar um novo mosaico do conhecimento para cada um.

Nosso grupo nasceu e cresceu analógico, mesmo sem saber disso, somente na fase adulta fomos apresentados a esse admirável mundo novo digital, ainda bem que tive a sorte de participar efetivamente dos primórdios dessa nova era.

Trabalhei com cartão perfurado, e só dispunha de acesso a distância do então cérebro eletrônico da IBM, o popular 1130, que com seu porte de caminhão basculante, exigia um ambiente de clima nórdico, para que conseguisse funcionar a contendo. Em função disso, ficou menos complicado se adaptar a microcomputadores e mais tarde incorporar internet e smartfone ao cotidiano sem sobressaltos.

Hoje somos todos idosos, se pouco variavam as idades lá atrás, agora então, menos ainda, porém o que não falta são histórias vivenciadas e porque não rememoradas, afinal, todos desempenhamos um papel nesse enredo aberto, e o mais interessante das histórias, são mesmo a diversidade de situações, onde muitas vezes detalhes que passaram despercebidos para alguns, marcaram de forma significativa aquele mesmo momento para outros.

Nestes encontros, hoje mais escassos que no passado, também entra na ordem do dia acontecimentos típicos de gente mais vivida, então baixa a lembrança dos que precocemente partiram para uma outra, e que de alguma forma deixaram boas e diferentes lembranças em cada um de nós.

Por incrível que possa parecer, essas relações construídas ao longo de décadas sofreram fortes abalos sísmicos, quando um capitão se tornou presidente do país. Ele trouxe a tona, um contingente de eleitores que pensavam como ele, ou melhor, não faziam uso dessa característica tipicamente humana.

Em curto espaço de tempo, se cercou de assessores que lembravam o incrível exército de Brancaleone, e que tinha como meta desconstruir todos os avanços sociais duramente conquistados ao longo de décadas.

Logo, Brasília se transformou num quartel, e com requintes de sadismo este dignatário empossou ministros que odiavam suas respectivas pastas, com claro intuito de tirar o país dos trilhos.

Mas, como felizmente tudo passa, esse pesadelo de quatro anos passou, e agora cabe a todos nós pessoalmente buscar reconciliação, e isso vale também para essa nação, que precisa agora juntar os caquinhos de tudo que foi quebrado por esse aprendiz de tirano de aldeia.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 22/05/2024
Código do texto: T8068876
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.