Viajar com namorado é bom? Não vou mentir, a resposta é: talvez. Digo isso porque pode ser uma cilada. Se você tem um namorado romântico, cavalheiro e prestativo, tenha muito cuidado, porque essas qualidades podem lhe custar caro. Muito caro. Um homem com todas essas qualidades são sedutores e quando você cai em si, a viagem foi toda dele, não sua, principalmente se ele está pagando. Ele é cavalheiro, lembra? E não se preocupe: ele não vai passar na sua cara que está pagando, então está no comando. Jamais. Ele seduz com sua voz macia, uma cara de maior abandonado e muito romantismo para ter o que deseja. Resumindo: ele joga pesado.

          Já tive um namorado assim e confesso que demorei a entender que só fazia o que ele queria. Um dia ele entrou no meu apartamento e disse que ia me dar um presente de aniversário inesquecível: uma viagem a Paris. Íriamos no outono, o que tornaria a viagem ainda mais romântica. Fiz então uma lista do que gostaria de fazer e comprar: ir no cafe de Flore, Brasserie Lipp, galerie Lafayette, tomar um cosmopolitan no bar do hotel Ritz, sentar na beira do rio Sena tomando champagne - francês, claro - e andar pela Champs Elysees apenas apreciando a cidade luz. Pois é, fiz todos esses planos e na volta ao Brasil percebi que os únicos itens da minha lista que fizemos foi tomar champagne às margens do Sena e andar pela Champs Elysees porque a viagem inteira, só fiz o que ele quis e não discutimos nenhuma vez. Achei inacreditável e ao olhar para ele, na poltrona ao lado - primeira classe, óbvio - o safado dormia como um anjo. Pensei em matá-lo ? Claro que sim. Mas pensando melhor, desisti, afinal, onde vou arranjar outro namorado como ele? Posso voltar a Paris quando quiser. 

          Cheguei a conclusão que matar não seria a solução. Um namorado com essas qualidades tem suas compensações: paga tudo, toma todas as providencias - todas mesmo, até uma simples ida a uma boulangerie - e por fim, não menos importante, não reclamou dos meus gastos. Ele trabalhou incansavelmente para que tudo saísse perfeito e eu fosse a pessoa mais feliz do mundo, mesmo só fazendo o que ele quis.. Pensando bem achei melhor aproveitar a primeira classe bebendo minha taça de champagne. Vocês acreditam que no avião não serviam cosmopolitan? Um absurdo total pelo preço que pagamos.

          Enfin, a próxima vez que for a Paris, vou sozinho. talvez com pouco dinheiro, mas quero fazer tudo que me der na cabeça ou simplesmente não fazer  ab-so-lu-ta-men-te nada. A noite se estiver cansado, após passar o dia me mimando, coloco um jeans surrado, um all star e uma camiseta básica, vou ao cafe de Flore , peço uma salada, um tartare e como com calma observando o movimento ao meu redor, sem hora para voltar para o hotel. Às vezes fico pensando como a vida é difícil, mas a nossa felicidade está sempre em pequenos momentos e não precisamos necessáriamente estar com alguém para estarmos bem. Ao mesmo tempo se não discuti em nenhum momento com meu namorado em nossa viagem, é porque também estava feliz com ele. Ah, felicidade, sempre passando em nossas vidas de mansinho, sem avisar e muitas vezes, nem percebemos que estamos felizes.

          Viva o amor! Viva a Liberdade! Viva a felicidade!

José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 21/05/2024
Reeditado em 21/05/2024
Código do texto: T8068356
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.