O Dia do Profissional de Letras

 

“Profissional graduado em Letras”, eis aí a definição de letrólogo dada pela Academia Brasileira de Letras, na seção Novas Palavras de sua página da rede mundial de computadores (world wide web) ou, se alguém assim prefere, internet. Lembro, por ser oportuno, que a palavra internet, linguisticamente, já não é considerada estrangeirismo pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Continuam como estrangeirismos, por exemplo, site, on-line e online (as duas formas são corretas), mas internet, não. Internet foi aportuguesada – por sinal, sem acréscimo nem decréscimo de letras ou sinais – e se incorporou à língua portuguesa. Assim, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, atualmente na sexta edição, desde a quinta, deixou de registrar internet como palavra estrangeira.

 

Voltemos, porém, ao início e retomemos letrólogo, já que hoje, 21 de maio, é o Dia do Profissional de Letras. Também é o Dia da Língua Nacional, mas isso é outra história. O enfoque aqui é o letrólogo, profissional da palavra que atua em várias áreas, ou seja, tem várias especialidades. Letrólogo ou profissional de letras é o gênero, do qual crítico literário, escritor, filólogo, gramático, jornalista, linguista, lexicógrafo, professor de português e ou de outros idiomas e suas literaturas, tradutor e outros profissionais são espécies. Celebrar o Dia do Profissional de Letras é homenagear a todos eles.

 

O letrólogo ou profissional de letras estuda a palavra, trabalha com a palavra, diverte-se com a palavra, vive da palavra e pela palavra. Há, porém, outros profissionais como, por exemplo, os do Direito, que, quando estão trabalhando, obrigatoriamente ou escrevem, ou falam, ou fazem as duas coisas. Advogado que sou, sei muito bem disso. Gosto, aliás, de citar a lição de Eliasar Rosa, insculpida no seu livro Os erros mais comuns nas petições: “O advogado, trabalhando, ou escreve, ou fala.” Está explicada, pois, a ligação indissolúvel do Direito com a Literatura. Basta ver, quando não a profissão, a formação de quase todos os grandes literatos brasileiros: jurídica.

 

Com efeito, não é sem razão que, no Brasil, o Dia Nacional da Língua Portuguesa é comemorado no dia do nascimento do advogado e jurisconsulto Rui Barbosa, cujo nome completo é Rui Barbosa de Oliveira, dia 5 de novembro. Rui nasceu em 5 de novembro de 1849, motivo por que está escrito no artigo primeiro da Lei n.º 11.310, de 12 de junho de 2006: “É instituído o Dia Nacional da Língua Portuguesa a ser celebrado anualmente no dia 5 de novembro, em todo o território nacional.” Já, em Portugal, o Dia Nacional da Língua Portuguesa é comemorado no dia do falecimento do poeta Luís Vaz de Camões, 10 de junho. Camões faleceu em 10 de junho de 1580. Não confundir nada disso com o Dia Mundial da Língua Portuguesa, objeto da minha crônica “O Dia Mundial da Língua Portuguesa”, que é comemorado em 5 de maio.

 

É isso. E, pensando bem, julgo interessante concluir esta pequena crônica com o lindo poema “Dia do Profissional de Letras”, de Beatriz Braga, retirado do blogue Conciso & Coeso, de Marcia Moreira: “Fazer Letras é camonear, / é machadear, é caetanear, / é cora coralizar, / mas é acima de tudo acreditar / que, pelas palavras, / podemos o mundo / transformar e humanizar.” Bravo!... Quero somente, com a devida vênia, acrescentar que fazer Letras no Brasil é ruibarbosear e amar mais do que a todas as outras a “Última flor do Lácio, inculta e bela”, tão linda, assombrosa e inigualavelmente descrita em versos por Olavo Bilac no soneto “Língua Portuguesa”.  Penso ser isso o que faz todo profissional de Letras (ou de letras, tanto faz).