Aquário

Aquário

Deito sobre a grama seca e inspiro o ar com cheiro de chuva. Lembro da última vez em que estive aqui: crianças brincavam agitadas, dando aqueles gritinhos gostosos que arrancam os sorrisos mais sinceros em nós, adultos. Mas agora, ao olhar ao redor, vejo que as poucas crianças presentes estão sentadas e opacas com suas telas interativas, sem interagir de verdade com alguém.

Sei o que dirá, querido leitor: o mundo evolui, a tecnologia é essencial para nós e assim por diante...

Reconheço a importância da tecnologia. É maravilhoso saber que, com um toque, podemos ter diante de nós obras como Hamlet, visitar o Louvre sem sair de casa, e acessar informações importantes em tempo real sobre o que acontece pelo país e pelo mundo. Sou um entusiasta desse grande novo mundo e fico cada vez mais curioso para atravessar as diversas portas que nos são oferecidas para desbravar o universo.

Mas também vejo a importância de conhecer o passado, de entender de onde viemos e o que nos trouxe até aqui. Amei e deixei de amar coisas e pessoas, mas por que as deixei de amar? Abandonei e reiniciei projetos ao longo da vida, mas por que fiz isso? Por que me afastei de família e amigos? Por que larguei aquele emprego ou faculdade que eu adorava? Por que meu emprego vem em primeiro lugar, até mesmo antes de mim?

Ao olhar para o passado e fazer esses questionamentos, será que é possível resgatar algumas coisas? A tecnologia nos une e, ao mesmo tempo, cria um abismo entre nós... Uma pessoa na China está tão distante de mim quanto eu, sentado ao lado de uma senhora tomando chá.

Enfim, divaguei, caro leitor. Melhor respirar fundo e mergulhar de novo nesse fluxo de cardumes sem consciência de para onde vão, apenas indo rumo às profundezas escuras do desconhecido.

Amanda Brasiliano
Enviado por Amanda Brasiliano em 19/05/2024
Código do texto: T8066803
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